Quão ameaçador é o novo coronavírus? Ainda é cedo para dizer
com precisão, mas os dados vão se acumulando. Na manhã da terça-feira (4), o
placar oficial apontava 20.679 casos confirmados e 427 mortes —uma letalidade
de 2,06%. É o que temos, mas sabemos que não é isso.
Na fase inicial de uma epidemia, só portadores de quadros
graves acabam sendo testados. Para ter uma ideia do número real de infectados,
seria preciso testar também familiares e colegas dos pacientes, o que ainda não
foi feito. Mas epidemiologistas como Joseph Wu e Kathy e Gabriel Leung não desistem
fácil (https://www.thelancet.com/action/showPdf?pii=S0140-6736%2820%2930260-9).
A partir do número de casos exportados de Wuhan para outros países e de posse
da tabela da frequência mensal de voos ao exterior, eles inferiram o número de
infectados na cidade. Concluíram que, nos últimos dias de janeiro, o total já
era 13 vezes maior do que o número oficial, com a epidemia dobrando de tamanho
a cada 6,4 dias. A taxa de reprodução do vírus (R0) foi por eles estimada em
2,68.
Na visão dos pesquisadores, mesmo com as quarentenas, seria
difícil evitar surtos sustentados de transmissão em outras localidades da
China. O ponto positivo é que a letalidade do vírus seria bem menor do que a
sugerida pelos primeiros números. No cenário do trio, ela cairia para menos de
0,2%.
Em outro trabalho interessante, virologistas liderados por
Vincent Munster especulam que o novo coronavírus possa produzir infecções mais
leves do que a Sars por atacar as vias respiratórias altas e não as baixas. Um
vírus menos patogênico é ótima notícia, mas, quando as pessoas não ficam muito
doentes, circulam mais e se tornam transmissores mais eficientes.
Assim, paradoxalmente, podemos estar diante de um vírus que
não representa perigo muito grande no plano individual, mas que poderá
tornar-se um baita de um problema em escala populacional, devido ao impacto
sobre os sistemas de saúde e a economia.
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