Um ex-ministro definiu a conduta do presidente. “Ele
confunde o Brasil com a pessoa física dele. Se você critica o Jair Bolsonaro,
ele acha que você é inimigo do Brasil. Ele precisa se conscientizar de que é só
um brasileiro”, disse Gustavo Bebianno, no fim do ano passado.
Bolsonaro deformou o aparato estatal. O governo coleciona
episódios em que a máquina pública foi explorada para atingir desafetos e
alimentar picuinhas. Servidores e dinheiro público deixam de atender à
sociedade e são desviados para um projeto particular de poder.
O ataque da Secretaria de Comunicação da Presidência à
diretora Petra Costa é o exemplo mais recente. Em entrevista a uma TV
americana, a cineasta fez críticas direcionadas a Bolsonaro e ao governo, mas
foi alvejada por um órgão oficial e tachada como “militante anti-Brasil”.
A tentativa de embaralhar a fronteira entre país e
governante é típica de líderes autoritários, que se escondem atrás de apelos
nacionalistas em busca de proteção. O Planalto não apenas abasteceu esse delírio
como usou sua estrutura a serviço da defesa pessoal do presidente.
A cineasta cometeu erros e imprecisões ao descrever a
eleição de Bolsonaro e suas bandeiras de extrema direita. O presidente e alguns
ministros poderiam rebater esses argumentos individualmente, mas o aparelho do
governo não pode ser usado para difamar seus rivais.
Essa distorção contamina toda a máquina estatal. Na semana
passada, a Petrobras cancelou uma palestra da economista Deirdre McCloskey
porque ela disse que Bolsonaro era qualquer coisa, menos liberal.
Em casos assim, o interesse público fica abaixo de desejos
pessoais. Foi o que ocorreu quando o fiscal do Ibama que multou o presidente
perdeu o cargo ou quando Bolsonaro criticou governadores e disse que não daria
“nada para esses caras”.
O princípio da impessoalidade não é um capricho. Ele serve
para impedir que governantes de turno usem o Estado para financiar suas
obsessões e asfixiar opiniões divergentes.
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