A semana que se encerra neste domingo começou com o
presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, dobrando a aposta no negacionismo e
saindo para um rolê pelas cidades-satélites de Brasília. Termina com sua
autoridade ainda mais desgastada e sua figura reduzida à do capitão da reserva
que sempre foi.
Assim como grande parte dos brasileiros e do resto do mundo,
e por mais que esperneie contra ele, Bolsonaro está em isolamento radical. Está
confinado num labirinto, cada vez mais solitário e sem contato com a realidade.
Que outro chefe de Estado conseguiu a proeza de se indispor, em maior ou menor
grau e quase simultaneamente, com o próprio ministro da Saúde, a Organização
Mundial da Saúde, os governadores de quase todos os Estados, os presidentes da
Câmara e do Senado, a imprensa e o Supremo Tribunal Federal em plena pandemia
do novo coronavírus?
Por que a insistência quase obsessiva em trazer para o
centro da discussão o fim do distanciamento social, as pesquisas com
hidroxicloroquina, jejum e oração quando o foco deveria ser fazer os recursos
já aprovados pelo Legislativo chegarem à ponta, aos mais necessitados?
Por que as redes ligadas e guiadas pelos Bolsonaro insistem
em conclamar para este domingo manifestações que vão contra um consenso global,
de que só o distanciamento social (que por ora no Brasil não é radical, aliás,
longe disso) pode nos fazer aproveitar a grande vantagem comparativa que temos
em relação ao resto do mundo: o fato de estarmos algumas semanas atrasados na
epidemia e podermos aprender com o que tem dado certo e errado nos outros países?
São perguntas sinceras, não retóricas. Porque por mais que
converse com políticos, economistas, analistas políticos e auxiliares de
Bolsonaro não consigo ver cálculo – ou “método”, para usar a expressão
consagrada pelo grande Carlos Andreazza – nas escolhas de um governo cada vez
mais abilolado, na aposta de Bolsonaro num caos que já acaba com sua imagem e,
no longo prazo, pode aniquilá-lo.
Diferentemente das vezes em que teve êxito em se apresentar
como baluarte anticorrupção sem nunca ter dado nenhuma contribuição ao combate
à corrupção, ou em furar a fila do antipetismo depois de uma vida dedicada
apenas às causas miúdas e corporativas, e em posar de austero enquanto
praticava rachadinha, punha os filhos na política e com eles construía um
patrimônio invejável, empregava funcionários-fantasmas, usava auxílio-moradia
tendo imóvel próprio e condecorava milicianos, no caso de uma pandemia em que
pessoas morrem às dezenas dia após dia narrativa não serve para absolutamente
nada.
É por isso que por mais que o presidente deambule em
ziguezague em seu labirinto, guiado por filhos igualmente desnorteados e
assistido por ministros cada vez mais omissos e coniventes, ele não chega à
saída. Porque só uma capitulação diante dos fatos e a rendição à racionalidade podem
evitar que, mais cedo ou mais tarde, o capitão seja visto por todos, até pelos
que ainda hoje insistem em passar pano para seus abusos e suas sandices, como
inviável para conduzir o País numa crise absoluta e definidora do futuro de
toda a humanidade.
Bolsonaro precisa:
– Fazer com que o Ministério da Economia vença a catatonia
de ter visto sua agenda mudar radicalmente e distribua de uma vez a Renda
Básica Emergencial;
– Parar de sabotar Luiz Mandetta e deixá-lo comandar a ação
integrada com governadores e prefeitos,
– E deixar de falar do que não entende, de isolamento social
a medicamentos.
Se conseguir esse programa mínimo, que não requer
brilhantismo nem grande coragem de estadista, dará a melhor contribuição de que
é capaz para que atravessemos esse pesadelo e saiamos do labirinto em que
estamos enfiados com aquele que deveria nos conduzir.


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