Morreu um brasileiro por hora nos últimos 20 dias de
pandemia. É provável que o número de mortos no país aumente para 25 por hora na
média dos próximos 180 dias. Em São Paulo, a previsão oficial é de 111 mil
mortos até setembro. É o cenário governamental mais suave para os próximos seis
meses.
O que faz o presidente? Jair Bolsonaro insuflou uma crise de
confiança na sua capacidade de liderar o país na devastação. Talvez consciente
da própria inconsciência, resolveu apostar no agravamento da situação.
Ele se esforça para submeter o ministro da Saúde à tortura
da humilhação pública. Até agora, só conseguiu aumentar o respaldo a Luiz
Mandetta nas pesquisas e o estresse na gerência do socorro à população.
Alguns veem fobia paranoica na fantasia de criar inimigos
para afirmar o poder. Outros percebem em Bolsonaro apenas um político
oportunista, à procura de dividendos na tragédia, interessado só na reeleição.
Podem ser as duas coisas, mas a insistência de Bolsonaro no
falso dilema entre salvar vidas ou a economia, talvez seja ainda mais
reveladora sobre o presidente-candidato.
Mostra que, na prática, ele opera com a lógica da busca pelo
número “mágico” de vítimas da pandemia — o do total de mortos que imagina
“aceitável” pela sociedade em troca de pontos de aumento do PIB.
Incapaz de conduzir políticas que evitem o colapso econômico
sem aumentar o número de caixões, recorre à exaltação do seu poder legitimado
nas urnas. Porém, a política é cruel, dizia Tancredo Neves: “Voto você teve.
Você não tem, você teve”.
Quando, tacitamente, estimula ministros e a parentela a
reverberar racismo contra a China, transforma a suposta paranoia em fator de
risco ao país, porque os chineses são principais sócios estrangeiros na
infraestrutura e compram um terço de tudo que o Brasil exporta. O sinais de
prejuízos já são notáveis em redutos de Bolsonaro, dependentes das exportações,
e que lhe deram mais de 70% dos votos locais em 2018.
Ao fomentar crises interna e externa em plena pandemia,
Bolsonaro passa a flertar com o suicídio político.


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