Após três meses de distanciamento social, muitos Estados e
municípios iniciam uma cuidadosa volta à normalidade. Embora em poucos lugares
se tenha decretado o fechamento total (lockdown), o confinamento começou a
mostrar resultados onde a pandemia se iniciou, que é o Estado de São Paulo. Em
particular, no município da capital o processo está mais avançado, como se pode
verificar pelo comportamento de uma curva que mostra a evolução da média móvel
de sete dias de novos óbitos, que parece estar se estabilizando. Um indicador
adicional é que a pressão sobre o número de leitos de UTI disponíveis amenizou.
Durante esse período, um número limitado, porém relevante,
de setores teve desempenho satisfatoriamente bom. São eles:
– O agronegócio, que foi capaz de colher uma safra recorde e
encaminhá-la para os mercados.
– A logística, incluindo a chamada última milha, que é a
entrega no endereço do comprador final.
– O comércio exterior, especialmente na exportação de
produtos agrícolas, que tem batido recordes. Em boa parte, isso se deve à
automação de terminais e sistemas de despacho de caminhões e trens, que acabou
com boa parte do congestionamento nos portos.
– O sistema financeiro, no qual a generalização do “home
banking” é anterior ao “home office”. Nenhuma transação deixou de ser feita.
– O segmento de telecomunicações e de tecnologia da
informação (TI), incluindo as empresas de base tecnológica.
– Os setores do comércio ligados a alimentação, higiene,
limpeza e farmacêutica, bem como suas indústrias fornecedoras.
– Os serviços de saúde e assistência, inclusive com
expressiva elevação de emprego e de recursos provenientes de doações do setor
privado.
Esses segmentos têm algumas características comuns: todos
tiveram muita agilidade na introdução de protocolos para evitar a difusão do
vírus, sem parar a produção e colocar em perigo a saúde dos funcionários. Todos
atendem às necessidades básicas das famílias.
Têm sido objeto de inovações tecnológicas, elevação da
produtividade e redução de custos. Isso é chave. No caso da saúde, são muitos
os exemplos: desenvolvimento e produção de equipamentos e serviços, inclusive
respiradores, equipamentos auxiliares nos tratamentos e em cirurgias,
desenvolvimento de novos testes, nacionalização na produção de certos sais etc.
Vários desses segmentos têm se beneficiado da desvalorização
cambial, especialmente porque os itens não comercializáveis, como salários e
logística, ficaram mais baratos em dólares. Por exemplo, pela primeira vez na
história, a logística de grãos em Mato Grosso ficou mais barata que a logística
do Meio-Oeste americano.
Existe uma clara indução para a adoção de processos
automatizados, até para garantir o distanciamento social e evitar o contato com
cartões e dinheiro ou automação de segurança residencial.
Durante esse período, muitas oportunidades novas se tornaram
visíveis, desde as decorrentes da expansão da área da saúde aos diversos
serviços prestados a distância e a possibilidade de nacionalização de vários
materiais e equipamentos.
É uma chance que não poderemos perder, desde que a nova
produção já se inicie minimamente competitiva dada a desvalorização da moeda
brasileira. Entretanto, se for para pedir subsídios em Brasília, será melhor
nem começar.
O que mais impressiona na gravação da reunião ministerial é
a total falta de propósito, de agenda e de rumo. Uma sucessão de falas
desarranjadas, patéticas e algumas alucinadas, incluindo armar grupos de
militantes. O maior problema do País, o coronavírus, não foi nem sequer
mencionado.
É impossível dar certo qualquer empreendimento com esse
corpo diretivo. Especialmente, o Brasil.
E não se pode dizer que isso é por conta do STF.
*Economista e sócio da MB Associados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário