Magnífico dia, o de ontem, escolhido pelo presidente Jair
Bolsonaro para brincar de marcha soldado, cabeça de papel, se não marchar
direito vai preso pro quartel. Ameaçou desatar uma crise institucional com a
desobediência a uma ordem da justiça. No fim, recorreu ao Supremo Tribunal
Federal contra a decisão de um dos seus ministros. Operou o prodígio de unir os
ministros contra ele.
No seu caso, bravata é um mal de família. Eduardo, deputado federal,
bravateou no passado que bastariam um cabo e dois soldados para fechar o
Supremo. Anteontem, ao lado de dois blogueiros investigados pela fabricação de
falsas notícias, que “o momento da ruptura” é só uma questão de tempo. Não faz
tanto tempo assim que o vice-presidente batizou o rapaz de Eduardo Bananinha.
Por sua vez, Carlos, o vereador, boca suja igual a do pai,
inaugurou seu novo celular mandando o PSOL e demais partidos de esquerda para
aquele lugar… O mais calado dos três zeros, parceiro de Queiroz na expropriação
de parte dos salários de seus funcionários, Flávio calou-se. Havia celebrado a
operação policial de cerco ao governador do Rio. A nova operação foi para cima
dos seus amigos.
Um pai miliciano e seus três pivetes tumultuam o Brasil com
seus delírios. E logo no dia em que o país registrou um total de 26.754 mortos
e de 438.238 pessoas contaminadas pelo Covid-19. Já morreu mais gente só no Rio
do que na China inteira, berço do vírus. O desemprego cresceu 12,6% no primeiro
trimestre do ano. Agora são quase 13 milhões de pessoas em busca de trabalho.
De nada disso falou o presidente da República no seu
encontro diário com devotos à saída do Palácio da Alvorada. “Mais um dia triste
na nossa história. Mas o povo tenha certeza: foi o último dia triste”, começou
ele. “Repito: não teremos outro igual ao de ontem. Chega. Chegamos no limite”.
Em seguida, alvejou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, com sua bílis.
Não disfarçou a fúria.
A operação da Polícia Federal contra fabricantes de falsas
notícias espalhadas por robôs para enfraquecer a democracia foi autorizada por
Alexandre. Bolsonaro não citou o ministro. Mas não precisava. “Acabou, porra!
Me desculpem. Acabou! Não dá mais para admitir atitudes de certas pessoas
individuais”, como se fosse possível existirem pessoas coletivas. Pessoa é algo
muito pessoal…
“Ordens absurdas não se cumprem”, disse, sem dizer se ordens
absurdas partidas dele não deverão mais ser obedecidas. “E nós temos que botar
limites nessas questões”. Aproveitou a ocasião para elogiar blogueiros,
empresários e deputados bolsonaristas intimados a depor na Polícia Federal. E
num rasgo de sinceridade, exclamou: “Querem tirar a mídia que eu tenho a meu
favor”.
O fantasma do golpe causou assombro no Congresso virtual e
para além dos estreitos limites da Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Mas
para que haveria um golpe? Para salvar a família Bolsonaro dos seus apertos?
Golpe com o apoio de quem? Dos 30% dos brasileiros fiéis a Bolsonaro contra os
70% que não são? É verdade que os 30% se comportam como se fossem 70%, e
vice-versa.
Golpe para livrar o país de quais perigos? Do perigo do
comunismo? Não há mais comunismo fora da China e da Coreia do Norte. De Cuba
que exporta revolução? Essa Cuba não existe mais e seu carismático ditador,
aqui recepcionado pela fina flor da sociedade carioca no começo dos anos 60 do
século passado, está enterrado. Perigo de inflação descontrolada? Ela nunca foi
tão baixa.
Golpe para empossar qual dos generais da ativa? Como é mesmo
o nome deles? Sim, porque generais com comando de tropas não dariam um golpe
para seguir batendo continência para um ex-capitão. E Bolsonaro não é qualquer
um ex-capitão. Foi promovido a capitão para evitar maiores problemas depois de
ter sido afastado do Exército por indisciplina e conduta antiética. Capitão de
triste memória.
Em breve, o Supremo Tribunal Federal responderá ao recurso de Bolsonaro em favor da sua tropa de meliantes digitais. E o que ele fará se a resposta for negativa? Cartas para a redação. Ou melhor: comentários abaixo.
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