A erosão do “robusto currículo” do professor Carlos Alberto
Decotelli dá raiva, pena e, principalmente, medo da disputa reaberta no
Planalto para fazer o novo ministro da Educação depois do inusitado Vélez
Rodríguez, do inqualificável Abraham Weintraub e do constrangedor Decotelli. A
ala militar, que indicou o doutor que não é doutor, está envergonhada. A ala
ideológica, dos filhos do presidente, está esfregando as mãos, gulosa. E o
Centrão, vai desperdiçar essa chance?
As chances de Decotelli permanecer ministro pareciam ter
ruído junto com o seu currículo, já que a tese de mestrado na FGV é acusada de
fraude, o título de doutor na Argentina não existe e o pós-doutorado na
Alemanha foi uma um devaneio – não há pós-doutorado sem doutorado. O presidente
Jair Bolsonaro, porém, decidiu prestigiar “o lastro acadêmico e sua experiência
de gestor”, em detrimento de “problemas formais de currículo”. Por enquanto,
Decotelli fica. Até quando?
O único item do currículo que fica em pé é o curso de
Administração na Universidade Estadual do Rio (Uerj), o que poderia ser
suficiente para a posse no MEC. O problema é inventar títulos e ser acusado de
plágio, um vexame inominável para ele próprio e um constrangimento
desnecessário para Bolsonaro, que, induzido ao erro, publicou nas redes sociais
o currículo cheio de buracos. Assim como ele, a mídia também.
Bastaram os repórteres vasculharem daqui e dali para
descobrir esses buracos. Por que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin)
não fez o seu trabalho de filtro? Ou displicência, ou a checagem de nomes é só
ideológica, ou a decisão foi tão rápida pelo presidente que não deu tempo de
consultar o GSI/Abin. A terceira hipótese faz mais sentido. Bolsonaro tinha
pressa para indicar um nome, porque a “ala ideológica” – leia-se: os filhos e
assessores fascinados pelo tal guru da Virgínia – não queria perder a vaga. A
“ala militar” agiu rápido e o presidente assinou a nomeação.
O fato é que Bolsonaro não dá a mínima para o ministério e
para a própria Educação, fundamentais em qualquer lugar do mundo e ainda mais
no Brasil, onde o problema maior, o problema-mãe, é a desigualdade social. Como
criar uma grande nação com uma parcela tão grande da população excluída, sem
chance de um lugar ao sol. Como salvar a Educação, garantir o futuro das
crianças pobres? Com Vélez, Weintraub, Decotelli, ideologias fajutas,
currículos fraudulentos? E esse drama não acabou. Pobre MEC, pobre Educação,
pobres crianças pobres.
E por que a “pena”, ao lado de raiva e medo no primeiro
parágrafo? Decotelli é um professor negro, respeitado no meio acadêmico, com
perfil técnico, e foi muito bem recebido depois de dois traumas sucessivos no
MEC. Num momento de mobilizações nos Estados Unidos e no mundo democrático pela
igualdade racial, ele seria o primeiro negro num governo que tem na Fundação
Palmares Sergio Camargo, um negro que nega o racismo no Brasil. Logo, Decotelli
tinha tudo a ver. Mas não resiste aos fatos.
O professor deu estranhas versões ontem ao presidente e à
mídia, dizendo que o plágio na tese de mestrado na FGV foi porque “leu demais”
e que sua tese de mestrado foi reprovada por ser “muito profunda”, o que remete
a uma comparação injusta, mas que acaba surgindo, com o mentiroso advogado
Frederick Wassef. Haja cara de pau!
O que fica é tristeza, desencanto, constrangimento, vergonha. Decotelli parecia uma grande referência e exemplo, mas foi virando uma grande decepção e constrangimento. O presidente anuncia que ele fica, mas, como tudo o que é ruim sempre pode piorar, não convém desprezar a hipótese de um terceiro “olavista” no nosso MEC.
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