Diário da Crise LXXV
Às vezes tenho a impressão de que as pessoas acham que o
coronavírus foi embora para sempre, que é apenas um pesadelo para se esquecer.
Imagens de Paris e mesmo de Genebra, sede da OMS, mostram
pessoas despreocupadas, muitas sem máscaras, interagindo como se não houvesse
uma pandemia tão recente.
Mesmo as manifestações norte-americanas, tão importantes
porque denunciam o racismo, revelam em alguns momentos uma certa
despreocupação. Gente gritando sem máscara muito próximos uns dos outros.
Aqui no Brasil, especialmente no Rio, iniciamos a abertura
de um isolamento que nunca foi completo. O prefeito Crivella abriu para
exercícios físicos e isso me parece razoável pois, em alguns lugares do mundo,
houve permissão para os exercícios, mesmo durante o período de isolamento.
Num dia em que o Rio apresenta recorde em números de mortes
pelo Covid 19, ele decidiu abrir também para o comércio ambulante.
Não sei se vai funcionar. Os europeus até que podem suportar
uma nova onda, mas aqui as coisas ficarão muito mais difíceis.
Felizmente, o Ministro do Meio Ambiente decidiu anular sua
anistia aos invasores da Mata Atlântica. Foi acossado pelo Ministério Público e
organizações ambientais.
Ele deveria ser demitido, mas faz apenas o que Bolsonaro
manda. Nos dois últimos dias, tanto na Holanda como nos EUA, houve movimentos
restritivos ao comércio com o Brasil.
Na Holanda, o parlamento vai rejeitar o acordo de comércio
entre a União Europeia e Mercosul. A razão disso é a política de destruição
ambiental.
Nos Estados Unidos, também foram rejeitados acordos
especiais de comércio com o Brasil, baseados na questão ambiental e no
desrespeito aos direitos humanos.
As pessoas não acreditam muito. Mas o Brasil passou a ter
imagem muito negativa lá fora. E não é por causa de uma imprensa de esquerda,
como pensa o governo. Os próprios jornais de direita têm criticado duramente
Bolsonaro.
Vivemos uma crise sanitária de proporções gigantescas.
Caminhamos para uma crise social profunda e uma situação econômica devastadora.
O isolamento internacional dificulta todas as propostas de
retomada. Além disso, temos a grave crise política, configurada nas tendências
golpistas do governo.
Como convencer os bolsonaristas desta realidade
desagradável? Eles sempre respondem com o passado, com o governo do PT, que já
foi para o espaço há tempos. Ou vêem no isolamento internacional uma
conspiração contra o seu “mito”. O aquecimento global é obra do marxismo, o
vírus é um vírus comunista.
Muito possivelmente, teremos de soerguer o Brasil sem eles, sem os bolsonaristas extremados, que hoje tornaram-se minoria mesmo entre seus apoiadores.
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