Causou preocupação o estudo chinês publicado na Nature
Medicine que mostrou que pacientes contaminados pelo vírus Sars-CoV-2 experimentaram
uma significativa redução nos níveis de IgG e de anticorpos neutralizantes
entre dois e três meses após a infecção. Em alguns casos (40% dos
assintomáticos e 13% dos sintomáticos), a doença se tornou indetectável pelos
testes sorológicos.
O estudo, que precisaria ser replicado, tem uma série de
implicações, todas inquietantes. A mais óbvia é que precisamos desconfiar dos
resultados de testes para anticorpos, seja nos inquéritos sorológicos, seja
para a emissão dos chamados passaportes de imunidade. Aqui, a própria ideia de
liberar a circulação de pessoas que apresentem testes positivos se torna
duvidosa, já que não há segurança nem de que os exames retratem adequadamente
quem já teve contato com o vírus nem de que a imunidade propiciada por uma infecção
prévia seja duradoura.
É esse último ponto que incomoda. Se a imunidade é mesmo de
curta duração, não poderemos contar com a imunidade de rebanho nem no futuro, e
até a possibilidade de desenvolvermos vacinas eficazes pode ser colocada em
questão.
E não é só. Todos os modelos que usamos para projetar o
avanço da epidemia são do tipo SIR, isto é, presumem que as pessoas que se
recuperam permaneçam nessa condição por um tempo razoável. Se eles estão
errados, deveríamos adotar modelos SIS, que trariam cenários mais sombrios.
Devemos, então, nos desesperar? Ainda não. Como dizem os médicos, a clínica é soberana. O vírus circula há mais de seis meses na China e ainda não vimos levas de pacientes recuperados voltando a ficar doentes. Quando isso acontecer, teremos uma resposta precisa sobre a duração da imunidade. Por ora, o que dá para dizer é que o enigma da resistência à Covid-19 é mais complexo e deve incluir, além de anticorpos neutralizantes, a imunidade inata e a celular.
Nenhum comentário:
Postar um comentário