A quatro dias do segundo turno de 2018, Lula cobrou a união
de “todos e todas que defendem a democracia”. Numa carta escrita da prisão, o
ex-presidente anotou que o país caminhava em direção a uma “aventura fascista”
e afirmou: “É o momento de unir o povo, os democratas, todos e todas em torno
da candidatura de Fernando Haddad”.
O petista agora indica que aquela era uma peça de marketing
de baixa qualidade. Nos últimos dias, ele criticou esforços pela criação de uma
frente contra tendências autoritárias de Jair Bolsonaro.
Classificou manifestos em defesa da democracia como projetos
da elite e desestimulou o PT a aderir aos movimentos.
“Sinceramente, eu não tenho mais idade para ser maria vai
com as outras”, afirmou o ex-presidente num evento do partido, na segunda (1º).
A rejeição ao governo se alargou, mas Lula só parece
preocupado em preservar hegemonia em seu próprio campo político. O
ex-presidente se recusa a compartilhar a liderança de um pacto de oposição e
resiste a abrir mão de itens de sua agenda em nome de princípios mais
abrangentes.
Para o petista, os movimentos pela democracia são parte de
um plano da elite para “voltar a governar o país sem o PT”, ignorando a agenda
de redistribuição de renda que se tornou marca da sigla. Sem perceber que o
eixo de contestação a Bolsonaro se desloca rapidamente para o centro e para a
direita, no entanto, ele corre o risco de ser atropelado também dentro da
esquerda.
Alguns aliados de Lula dizem que o ex-presidente se comporta
de maneira pretensiosa e autocentrada. Eles entendem que é preciso unir forças
políticas com programas distintos e admitem que a esquerda pode não ser capaz
de disputar o comando dessa frente neste momento.
Lula rejeita essa aliança por acreditar que o PT pode se contrapor sozinho a uma possível recessão econômica sob o atual governo. Em nome desse projeto, ele se mostra disposto a alimentar uma divisão que pode facilitar o caminho para as investidas autoritárias de Bolsonaro.
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