Depois de se revelar um quase doutor, Carlos Alberto
Decotelli arrisca virar um quase ministro. O novo titular da Educação deveria
tomar posse hoje. A cerimônia foi cancelada após a descoberta de que ele
turbinou o próprio currículo.
O ministro foi anunciado na quinta-feira como uma escolha
técnica. Em quatro dias, suas credenciais desabaram como peças de dominó. Ao
contrário do que dizia, o professor não concluiu doutorado em Rosário, na
Argentina. Tampouco fez pós-doutorado em Wuppertal, na Alemanha.
Para completar, surgiram indícios de que Decotelli cometeu
plágio em sua dissertação de mestrado. A Fundação Getulio Vargas informou que
vai investigar o caso, e o mestre prometeu “revisar” as passagens que copiou e
colou no trabalho.
O professor não é o primeiro figurão do governo Bolsonaro a
ostentar títulos imaginários. O ministro Ricardo Salles já inventou um mestrado
em Yale, e a ministra Damares Alves fantasiou que era mestre em educação e
direito constitucional no Brasil. No passado, a então presidenciável Dilma
Rousseff também teve que remover dois diplomas do currículo.
Salles e Damares conseguiram se segurar, mas a situação de
Decotelli é mais complicada que a deles. O histórico acadêmico era seu
principal cartão de visitas, e ele foi escolhido para a pasta que supervisiona
todo o ensino superior no país.
Além de desgastar a própria imagem, o professor criou um
embaraço para seus padrinhos. Oficial da reserva da Marinha, Decotelli contou
com o pistolão dos ministros militares. Ontem alguns generais já se
penitenciavam pela indicação. A Abin também sai mal do episódio. Mais uma vez,
ficou claro que o filtro para as nomeações do governo só funciona no papel.
Em países que levam a educação a sério, quem falseia o currículo não passa um dia nessa cadeira. No Brasil de Bolsonaro, até um Weintraub pode chegar lá. Por ora, o presidente deixou a posse em banho-maria. Diante dos antecessores, um ministro que mente ainda pode ser um mal menor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário