Mais uma vez sua excelência tenta dar um ar de sobriedade ao
seu governo bizarro. Bolsonarinho Paz e Amor apareceu de repente, graças ao
tranco que o Bolsonarão sofreu com a prisão do amigo Fabrício Queiroz. Reina
uma paz no Palácio do Planalto somente vista nos primeiros 45 dias de governo.
Naquela época, contudo, havia uma euforia decorrente da nova investidura que
hoje não se vê. Todos os gabinetes agora estão calados, esperando para ver se a
coisa se consolida de verdade. Melhor mesmo fazer pouco barulho para não
assustar a fera. Vai que ela se irrita e desperta outra vez aquela ira insana.
Os generais acham que a paz pode ser duradoura. A nomeação
de Carlos Alberto Decotelli para o Ministério da Educação mostra que há uma
disposição do presidente de buscar um pouco de calmaria no meio da tempestade.
A ameaça sobre o mais velho dos seus zeros parece ter refluído um pouco depois
da decisão do Tribunal de Justiça do Rio de tirar o caso das rachadinhas da
primeira instância e dar ao acusado foro especial. Até por estar contaminada
politicamente, a decisão do TJ, mesmo contrariando determinação do Supremo
Tribunal Federal, colabora para manter o farol baixo do capitão. Da mesma forma
que ninguém se mexe no Planalto para não despertar o bicho por ora acorrentado,
Bolsonaro talvez ache melhor ficar quietinho em favor da segurança do filho.
O problema, todos sabem, é que o instinto belicoso do
presidente é maior do que ele mesmo. Basta o cenário se deteriorar um pouco
para que ressurja em toda a sua pujança. Imaginem o que pode ocorrer quando
(não se trata de se, mas quando) a mulher de Queiroz for encontrada e presa.
Márcia não vai se calar. Queiroz vai espernear e ameaçar. O zerinho vai chorar
e o papai dele com certeza vai estourar. Tomara que eu queime a língua, ou a
ponta dos dedos, mas não consigo ver a menor chance deste estado de espírito
prosperar e durar. Se não for hoje, a explosão vai acontecer amanhã ou depois
de amanhã. Não pense que se trata de torcida, não é. Pelo Brasil, o ideal seria
que este governo chegasse ao fim, sem maiores solavancos, e depois se
dissipasse.
Ocorre que há outra bomba à espreita do presidente e de seus
filhos. Trata-se de mais um velho amigo, o advogado fanfarrão Frederick Wassef.
Ele já mandou avisar que não vai aceitar ser abandonado, que não gosta que lhe
voltem as costas. Na entrevista que deu à revista “Veja”, Wassef disse que
recolheu Queiroz em sua casa de Atibaia porque “o presidente simplesmente
cortou contato ou relação com ele (…) da mesma forma Flávio se distanciou
completamente”. Ele acrescentou que deu guarida ao operador das rachadinhas no
gabinete do zero porque passou a ter “informação de que Fabrício Queiroz seria
assassinado (…) ele seria executado no Rio (…) quem estivesse por trás desse
homicídio iria colocar isso na conta da família Bolsonaro”.
Fala sério, alguém acredita nesta ajuda “humanitária”, como
o próprio Wassef a definiu? Difícil de engolir. O que se viu na entrevista do
advogado outrora falastrão foram recados claros para o presidente. Primeiro, se
ele não aceita que se abandonem outros, como fizeram com o Queiroz, imaginem o
que pode fazer se abandonarem a ele. Depois, essa história de queima de arquivo
foi uma inequívoca lembrança da morte do miliciano Adriano da Nóbrega, amigo de
Queiroz, Flávio e Jair Bolsonaro. Encurralado numa casa de fazenda na Bahia,
era fácil mantê-lo sob vigilância até que se entregasse. Mas, não, a PM invadiu
a casa e metralhou o miliciano.
E tem mais. O miliciano deveria ser usado por Wassef para
dar fuga a Queiroz e família, caso fosse necessário. Márcia, a mulher do chefe
das rachadinhas, foi à casa da mãe de Adriano no interior de Minas Gerais tratar
dessa questão. A bagunça é grande. Envolve um advogado inescrupuloso, um
assassino profissional, um funcionário ladrão e um primeiro filho corrupto. É
um prato cheio capaz de desestabilizar qualquer um. Imaginem o efeito que
produzirá sobre Jair Bolsonaro quando suas pontas mal aparadas começarem a ser
reveladas no inquérito em curso.
Francamente, doutor
Um juiz deveria ser afastado compulsoriamente das suas funções sempre que
fossem apresentadas denúncias contra ele. Um magistrado denunciado por associação
com uma pessoa que superfaturou serviços prestados à saúde pública, por
exemplo, deveria parar de julgar casos até ele próprio ser julgado e
inocentado. Continuaria recebendo até o julgamento. Se condenado, seria
demitido sumariamente. Se for fotografado empunhando uma arma de uso exclusivo
das forças policiais, da mesma forma deveria ser retirado da sua vara até que
se esclarecessem as circunstâncias em que a imagem foi obtida. Suspeitos não
podem julgar.
Embaixada para quê?
Foi-se o tempo em que as embaixadas americanas tinham em seus quadros
pessoal de inteligência que informava ao Departamento de Estado sempre que um
fato apresentava algum risco para os Estados Unidos. Vejam o caso Weintraub.
Menos de uma semana antes de viajar para Miami com passaporte diplomático
fajuto ele esteve numa manifestação em Brasília, sem máscara, cercado por pelo
menos uma dúzia de outras pessoas também sem máscaras. Todo o brasileiro que
entra nos EUA tem que se recolher em quarentena, a menos que seja uma
autoridade em viagem de trabalho, obviamente. O filhote de Olavo se enquadra no
primeiro grupo mas age como se fosse do segundo. Comete um crime pelo qual
poderia ser deportado. Mas já não se fazem mais embaixadas como antigamente.
Aos trancos
Maria Cristina Boner Leo, a ex-mulher de Frederick Wassef, vem se
envolvendo em rolos com órgãos públicos pelo menos desde 1999. Em abril daquele
ano, a empresa TBA, da qual era dona, foi acusada de vender equipamentos da
Microsoft para órgãos federais sem concorrência pública. Maria Cristina alegava
ser representante exclusiva da Microsoft e amiga de Bill Gates. O caso foi
parar no Congresso e na Secretaria de Direito Econômico.
Não adiantou
O secretário de Educação do Paraná, “o jovem” Renato Feder, fez um enorme
esforço para assumir o posto do sinistro Abraham Weintraub. Chegou ao ponto de
chamar de estadista o pior presidente da História da República brasileira. De
nada adiantou o puxa-saquismo explícito, além de colar para sempre em seu
perfil a embevecida admiração que tem por Bolsonaro.
Quem manda mais?
Já tem gente dizendo que o deputado Arthur Lira (improbidade
administrativa, obstrução de Justiça, enriquecimento ilícito, desvio de
recursos públicos, violência doméstica), líder do centrão, manda mais hoje na
Câmara que o presidente da casa, Rodrigo Maia. Se ficar nessa leveza toda nos
seis meses que restam de sua presidência, Rodrigo corre o risco de não
conseguir fazer seu sucessor, imagina tentar uma reeleição.
Já Alcolumbre…
Legalmente, Rodrigo e Davi Alcolumbre não podem se reeleger para a mesa. O
regimento impede dois mandatos na mesma legislatura. Rodrigo cumpre o segundo
mandato seguido porque o primeiro foi na legislatura passada. Antes, teve um
mandato tampão com a saída de Eduardo Cunha, e o STF julgou que aquele termo
não deveria ser considerado. Mas há um precedente e nele se agarra Alcolumbre.
O falecido Antônio Carlos Magalhães conseguiu, em 1999, se reeleger numa mesma
legislatura graças a um parecer da advocacia do Senado que foi aprovado pela
Comissão de Constituição e Justiça. O poder de ACM então era imenso, tanto que
se reelegeu com 70 votos a favor e apenas três contra. Resta saber se
Alcolumbre reúne tanta força. Na Câmara, Rodrigo parece já ter jogado a toalha.
O cálculo do centrão
Ao bater o pé na manutenção das datas do primeiro e segundo turnos das
eleições municipais deste ano, o centrão trabalha com cálculos eleitorais bem
específicos. Diabolicamente, torce para que a epidemia perdure até outubro, o
que afugentaria muitos quarentenistas das urnas, mas não impediria a presença
em massa de embandeirados negacionistas. Por quê? Porque estes votam a favor e
aqueles votam contra.
Entreouvido por aí
“Dois anos depois de sair do governo, Temer segue aprovando mais reformas
do que Bolsonaro”. A frase é do jornalista Felippe Hermes, do Spotniks, e foi
pronunciada depois da aprovação do marco regulatório do saneamento, que tramita
no Congresso desde 2018. Rs.
Se fosse no Brasil
O presidente de Portugal deu uma aula on-line para crianças portuguesas.
Tratou da pandemia de coronavírus, deu um show. Se fosse no Brasil, nosso
presidente talvez preferisse outro tema, já que sabe nada de Covid-19. Poderia
ser uma corriqueira aula de tiro ao alvo. Ou lições de interrogatórios,
modeladas pelos exemplos deixados pelo coronel Brilhante Ustra, seu herói.
Poderia ser também uma aula de homofobia ou de machismo, com foco na humilhação
de terceiros e na agressão aos mais frágeis.
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