Diante da avalanche de notícias e eventos ruins que o
governo Bolsonaro tem acumulado nas últimas semanas, era de se esperar uma
queda mais acentuada da popularidade do presidente e um crescimento mais
vigoroso da avaliação negativa do desempenho de seu governo.
Afinal de contas, já são mais de 1,3 milhão de pessoas
contaminadas pela covid-19 e mais de 57 mil mortes. Houve redução de
aproximadamente 10% da atividade econômica e estima-se que a taxa de desemprego
já esteja em torno de 16%.
Para completar a “maré de azar”, o ex-assessor do senador
Flávio Bolsonaro e também amigo de longa data do presidente, Fabrício Queiroz, foi preso enquanto escondido na
casa do advogado da família Bolsonaro, Frederick
Wassef, sob acusação de ser o operador de um esquema de lavagem de
dinheiro, enriquecimento ilícito e formação de quadrilha liderado pelo próprio
filho do presidente.
Entretanto, os institutos de pesquisa têm mostrado que a
popularidade de Bolsonaro se estabilizou em 30%, o que sugere grande
resiliência política do presidente.
Quem seriam os eleitores que continuam apoiando o
presidente, mesmo diante de eventos tão negativos?
Em pesquisa de opinião desenvolvida com o apoio do Estadão,
identificamos que os eleitores que se autodenominam de direita e de centro
direita (27% da amostra de 7.020 respondentes) são majoritariamente homens
(71%), brancos (73%), acima de 40 anos de idade (67%), possuem renda superior
de 5 salários mínimos (70%), são profissionais liberais ou trabalham na
iniciativa privada (51%) e dizem possuir alguma religião, notadamente judaica
(39%), evangélica (38%) ou católica (33%). Apresentam perfil predominantemente
conservador, baseado nos valores morais e da família, e preferem políticas
econômicas liberais.
Esse perfil de eleitor brasileiro apresenta grande
similaridade com o de eleitores que se identificam como pertencentes ao “Tea Party”,
movimento surgido em 2009 nos Estados Unidos em oposição às iniciativas do
governo de Barack Obama, especialmente à reforma do sistema de saúde
(Obamacare) e ao plano de resgate econômico à crise de 2008. No livro The
Tea Party and the Remaking of Republican Conservatism, Theda Scokpol e
Vanessa Williamson mostram que os membros do Tea Party tendem a ser
republicanos, conservadores, homens, brancos, ter mais de 45 anos, ser de
classe média e protestantes evangélicos.
Analisamos como os eleitores brasileiros de direita e de
centro direita, que apresentam características sociodemográficas e políticas
semelhantes aos simpatizantes do Tea Party americano, se comportariam nas
eleições presidenciais de 2022.
A grande maioria dos Tea Party à brasileira reelegeria
Bolsonaro ou por forte identidade com o presidente (56%) ou para evitar a
vitória de um candidato de esquerda (32%). Apenas uma pequena parcela desse
grupo não votaria em Bolsonaro de jeito nenhum (12%). Por outro lado, uma
proporção bem menor de eleitores que não compartilham características dos
simpatizantes do Tea Party votaria com certeza em Bolsonaro (37%). Um contingente
um pouco maior reelegeria o presidente para evitar a vitória da esquerda (41%)
e uma parcela não desprezível de “Não Tea Party” não votaria em Bolsonaro de
jeito nenhum (23%).
Pesquisa recente do Pew Research Center sugere que os eleitores que pertenceram ao movimento Tea Party apoiariam a reeleição de Donald Trump em 2020. Não seria difícil imaginar qual seria o candidato dos simpatizantes do Tea Party caso eles pudessem votar no Brasil. O inverso também seria de se esperar.
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