E eis que, quando as atenções do Brasil estavam voltadas
para o currículo a la “jogo dos sete erros” do novo-ex-ministro da Educação,
vem a bomba, por avisos de push dos jornais: “Cachorro adotado pela família
Bolsonaro já tem dono e será devolvido”.
É verdade que estamos calejados com tantos absurdos, que
parecem pastiches de livros de realismo mágico e viraram diários nesses tempos
de pandemia. Mas essa manchete, combinada às sucessivas erratas no currículo
lattes (até aqui cabe trocadilho) de Carlos Decotelli, foi demais até para quem
acompanha o enredo dia a dia.
Sim, faltava um mascote ao anedotário do bolsonarismo. Agora
não falta mais. Augusto (talvez nunca saibamos se o nome era homenagem a algum
dos Augustos próximos ou a Augusto Pinochet, ditador de estimação da família)
na verdade era Zeus. Já tinha dono e teria de ser devolvido, depois de acolhido
pela primeira-dama, Michele Bolsonaro.
Os memes vieram imediatamente: nem cachorro Bolsonaro
consegue fazer durar no posto; nem o cachorro aguentou esse governo, e por aí
vai. A hashtag Bolsonaro ladrão de cachorro (!) foi levada aos temas mais
comentados do Twitter. O fato é que a piada foi elevada a categoria política na
nova era, dada a dificuldade, em vários episódios, de se encontrar balizas
sérias para analisar os acontecimentos.
Basta lembrar que não faz uma semana que, em meio a lives
históricas de artistas como Gilberto Gil e Milton Nascimento, fomos submetidos
a um show de sanfona do presidente da Embratur, Gilson Machado Neto, que
pretendeu entoar a Ave Maria em homenagem aos mortos pela covid-19 na
transmissão semanal de Bolsonaro nas redes sociais, para visível
constrangimento de Paulo Guedes.
O que tudo isso quer dizer? Que este governo virou um sitcom
de mau gosto, e não de hoje. Os Bolsonaros sempre foram um elenco para lá de
cafona, mas, por circunstâncias também elas dignas de um roteiro rocambolesco,
seu patriarca chegou à Presidência, levando a tiracolo a “família buraco”, como
bem definiu Eduardo em seu inglês avançado.
Os ministérios da Saúde e da Educação viraram a ribalta
principal desse pastelão. O primeiro não tem ministro já mais de 40 dias em
plena pandemia. O segundo se livrou de um maluco para ser entregue a um
mitômano. A linha sucessória Vélez Rodríguez – Weintraub – Decotelli é a
demonstração cabal do desapreço que o presidente dedica à Educação – que, não
por acaso, é o único caminho seguro para que o País supere a miséria que
fideliza o eleitorado a populistas de diferentes cortes ideológicos, mas
práticas em muito similares.
Nada disso deveria estar numa coluna de política em pleno
2020 em que mais da metade da população ativa do Brasil está sem ocupação, que
o vírus avança sem controle e que o governo não sabe como, por quanto tempo e
em que valor vai pagar o auxílio emergencial a quem precisa, esses sim temas
urgentes e nacionais.
Mas Bolsonaro consagrou a petecagem como política de Estado.
Vulgarizou de tal maneira a Presidência à qual se agarra com o temor dos
covardes que temos de comentar pessoas que jamais teriam, com currículo fake ou
real, de estar nos postos que estão.
Houve farialimer e passapanista aos borbotões enchendo a
boca para falar do ministério “técnico” de Bolsonaro. Já era uma lorota bem
antes de Decotelli, basta ver as mentiras sinceras dos currículos de figuras
como Ricardo Salles e Damares Alves.
Agora que tudo está descortinado e que o presidente ou nomeia Decotellis ou entrega os cofres ao Centrão sem intermediários, há quem ainda se agarre a Guedes ou a nomes como Tarcísio Gomes de Freitas. Triste sina a deles: virar coadjuvantes de filme sessão da tarde de cachorrinho. Ou plateia de sanfoneiro de beira de estrada.
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