Além da nomeação do novo ministro da Educação, que teria um
perfil técnico, ao contrário do guerrilheiro de direita Weintraub de triste
memória, há comentários insistentes em Brasília de que o presidente Bolsonaro,
nessa fase de calmaria pós prisão do Queiroz, tiraria do governo outros dois
ministros problemáticos, o das Relações Exteriores Ernesto Araujo e o do Meio-Ambiente
Ricardo Salles.
Seriam medidas saneadoras, para melhorar a imagem do
governo, sobretudo externamente. Bom se fosse verdade. Mas não acredito,
simplesmente porque os ministros citados, e outros, não fazem o que fazem por
que querem, mas porque representam uma visão de mundo que é de Bolsonaro.
Seria preciso mudar o software que comanda o retrocesso
nessas e em outras áreas, não apenas o hardware. Por mais que queira mostrar-se
contido, apaziguador, negociador, o verdadeiro Bolsonaro sempre prevaleceu, não
dando margem a uma mudança de comportamento por ter sido eleito presidente do
Brasil.
Se tivesse capacidade para fazer esse jogo político,
Bolsonaro teria pelo menos tentado. Como fez Lula ao ser eleito. Alguém imagina
Bolsonaro convidando para sua equipe um ícone da esquerda, como Lula fez ao
colocar no Banco Central o banqueiro internacional Henrique Meirelles, que
havia acabado de ser eleito deputado federal pelo arqui-inimigo PSDB?
O primeiro governo Lula foi de continuidade do de Fernando
Henrique não por convicção pessoal, mas por esperteza. Ele entendeu que, tendo
sido eleito pelo centro, não teria espaço para exercer um governo de esquerda
radical.Tanto que não colocou no ministério figuras carimbadas do pensamento
econômico da esquerda, como Aluizio Mercadante ou Guido Mantega, que só virou
ministro no último ano do primeiro mandato, com a saída de Palocci do governo.
Só no segundo mandato, reeleito apesar do mensalão,
sentiu-se forte o bastante para colocar em prática, mesmo assim cautelosamente,
a política econômica “de esquerda”, que gerou a “nova matriz econômica” de
Mantega no governo Dilma, começo do fim do lulismo no poder.
Bolsonaro, ao contrário, não quer entender que se elegeu não
porque era um radical de direita, mas porque foi quem conseguiu encarnar
eleitoralmente o antipetismo que dominava o eleitorado. Sem que isso signifique
que todos os antipetistas sejam radicais de direita. Como se Lula tivesse
achado que o Brasil tinha ido para a esquerda com sua eleição.
As escolhas de Sergio Moro para a Justiça, e Paulo Guedes
para a economia, serviram para contentar o eleitorado de centro-direita que o
elegeu, mas ele quis dar a seu governo a marca do radicalismo em setores
fundamentais como Educação, Meio-Ambiente, Relações Exteriores, Cidadania.
Como ele mesmo disse, antes de construir teria que
desconstruir. E pôs-se a desconstruir a Educação, procurando confrontar o que
considerava “um antro esquerdista”. Nada de programas, nada de projetos para o
futuro. Até o momento, só trabalho ideológico de uma direita radical.
Ao mesmo tempo, rebaixou a Cultura a uma secretaria ligada
hoje ao ministério do Turismo, e passou a desmontar toda uma estrutura cultural
que estaria ligada à esquerda intelectual. Nunca levou em conta a importância
econômica da cultura, nem seu papel fundamental no “soft power” brasileiro para
a imagem do país no exterior.
Nas Relações Exteriores, nunca essa imagem esteve tão
corroída por posições equivocadas e minoritárias num mundo globalizado, tanto
pela política externa quanto devido ao Meio-Ambiente. Confrontos com a China,
nosso maior parceiro comercial, por questões ideológicas, tão equivocadas
quanto as dos governos petistas em relação aos Estados Unidos.
Ser contra a ONU, a OMS e outros organismos internacionais
corresponde à visão de mundo de Bolsonaro, que considera o “globalismo” uma
esquerdização do planeta.
As ONGs do meio-ambiente seriam uma consequência dessa
política planetária que tem por objetivo ocupar a nossa Amazônia. As reservas
indígenas seriam territórios a serem usados para essa internacionalização de
nossas riquezas naturais.
Isso tudo para dizer que se, por acaso, Bolsonaro colocar pessoas equilibradas e sensatas nesses e em outras ministérios, eles não durarão, assim como não duraram Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich na Saúde. Ninguém muda da noite para o dia.
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