A prisão de Fabrício Queiroz foi a gota d´água que faltava
para que o bom senso prevalecesse no entorno do presidente Bolsonaro, levado a
um silêncio obsequioso diante da realidade que lhe batia à porta do Palácio do
Planalto.
Os ministros de origem militar, que no início do governo
eram vistos como anteparos aos arroubos totalitários da ala radical do governo,
venceram pela exaustão. Uns, como o chefe do Gabinete de Segurança
Institucional, General Augusto Heleno, abandonaram a moderação para aderir à
radicalização. Outros, como o General Santos Cruz, não resistiram às intrigas
palacianas e deixaram o governo.
O núcleo duro da ala militar permanece firme no desejo de
desmilitarizar sua presença para firmar a idéia de que não existem ministros
militares, mas de origem militar. Um que foi para a reserva no dia 1º deste mês
foi o General Luiz Eduardo Ramos. Ele já havia anunciado sua decisão dias
antes, como registrado aqui na coluna, maturada desde o dia em que recebeu
críticas de diversos setores, inclusive militares, por ter participado de uma
daquelas manifestações políticas em frente ao Palácio do Planalto, onde a
defesa de medidas antidemocráticas, como intervenção militar, eram feitas
abertamente.
Sentiu-se incomodado, admitiu que como General de Exército
da Ativa, recém-saído do Comando Militar do Leste, membro do Alto Comando do
Exército, mesmo se não houvesse a defesa de ações totalitárias, que minimizou
como sendo de uns poucos, não deveria participar de manifestações políticas.
Conversou com o presidente, que se disse contrário, mas realizou seu desejo
para poder ajudar o governo mais à vontade, como revelou em entrevistas.
O general Braga Netto, da Casa Civil, está na reserva já há
algum tempo, tendo permanecido na ativa durante curto período como ministro, e
o ministro da Defesa, General Fernando Azevedo pretende evitar situações dúbias
como a que o levou a sobrevoar de helicóptero junto com o presidente Bolsonaro
uma manifestação política, como se a estivesse apoiando, quando alega que
estava ali para averiguar as condições de segurança da Praça dos Três Poderes.
A vontade é de não misturar mais, ou não dar motivos para
que assim sejam percebidas, as ações de ministros de origem militar com a dos
militares da ativa. Por isso, há uma tentativa de homogeneizar o comportamento,
fazendo com que sigam o exemplo o ministro interino da Saúde, General de
Brigada Eduardo Pazzuello e o chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos
(SAE) Almirante de Esquadra Flávio Rocha, que foi promovido este ano, quando já
trabalhava no Palácio do Planalto.
Foram muitas idas e vindas nesse primeiro ano e meio de
governo, em que os assessores mais próximos ganharam ou perderam importância ao
sabor dos ventos políticos, que radicalizaram como quando Bolsonaro decidiu
enfrentar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), ou amainaram como
agora, quando a força das decisões institucionais prevaleceu sobre o espírito
“incontrolável” do presidente.
Os vários inquéritos no Supremo abrangendo não apenas seus
seguidores mais radicais, alguns presos, mas ele próprio, os inquéritos do
Ministério Público e da Polícia Federal sobre seus filhos Flavio e Carlos, a
prisão do Queiroz na casa do advogado da família, tudo levou a que Bolsonaro se
dispusesse a arrefecer os ânimos, aceitando finalmente, não se sabe até quando,
que não tem condições políticas para tentar enquadrar as instituições que lhe
limitam o poder presidencial, como acontece nas democracias.
Uma vitória marcante dos assessores militares foi acabar com
o cercadinho em que apoiadores de Bolsonaro constrangiam os jornalistas e
incentivavam as bravatas do presidente. Hoje, ele os recebe separadamente, nos
jardins do Alvorada, e seus arroubos ficam restritos a essa platéia.
Os relatos são de que o presidente oscila, há dias em que está mais calmo, outros mais agitado. Essa situação serviu também para confirmar o que os ministros de origem militar sempre garantiram: não existe possibilidade de as Forças Armadas apoiarem uma aventura ditatorial.
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