A Câmara aprovou ontem, por 402 votos a favor e 90 contra,
com quatro abstenções, a emenda constitucional que adia as eleições de 4 e 25
de outubro para 15 e 25 de novembro, em primeiro e segundo turnos,
respectivamente. A proposta foi articulada com êxito pelo presidente do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, e os
presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ). Houve resistência por parte do Centrão, principalmente do PL, com 41
deputados, cujo líder na Câmara, Wellington Roberto (PB), comandou a oposição à
mudança. O texto volta ao Senado para promulgação.
O adiamento das eleições era pedra cantada, em razão da
pandemia da covid-19. Além do risco de contaminação dos eleitores nas seções
eleitorais, existe a dificuldade criada pela situação sanitária do país para
preparação do pleito por parte da Justiça eleitoral. O mais importante na
discussão sobre o adiamento foi evitar a prorrogação de mandatos de prefeitos e
vereadores, como alguns defendiam, inclusive, com propostas de coincidência do
pleito com as eleições gerais de 2022. Esse risco foi afastado, embora o texto
aprovado tenha um gatilho que permite ao Congresso, caso um município ou estado
não apresente condições sanitárias para realizar as eleições em novembro,
editar um decreto legislativo designando novas datas para a realização do
pleito, tendo como data-limite o dia 27 de dezembro de 2020. A proposta
original atribuía essa prerrogativa ao TSE, mas foi modificada.
Com isso, as regras do jogo para as eleições municipais
estão finalmente definidas: o prazo de registro das candidaturas foi adiado de
15 de agosto para 26 de setembro; os partidos escolherão seus candidatos entre
31 de agosto e 16 de setembro, por meio virtual. No embalo, a legislação que
proibia propaganda institucional das prefeituras no período de 90 dias
anteriores ao pleito foi alterada. Atos e campanhas destinadas à luta contra a
pandemia do coronavírus poderão ser feitos, mas sob rigorosa fiscalização da
Justiça eleitoral, para evitar abusos.
A propaganda eleitoral começa apenas depois de 26 de
setembro. Até lá, quem pedir voto antecipadamente ou gastar muito dinheiro em
redes sociais corre o risco de ter a candidatura impugnada ou até mesmo ter o
mandato cassado, se eleito, por campanha antecipada ou abuso de poder
econômico, respectivamente. Expressões como “peço seu apoio”, “conte comigo”,
“me dê um voto de confiança” e outras, nas redes sociais, podem servir de prova
contra os candidatos.
Cenários
Serão eleições atípicas, por causa da pandemia. Teoricamente, os prefeitos
que se candidatarem à reeleição terão a avaliação de sua gestão impactada pela
pandemia, talvez mais até do que suas realizações anteriores. Levam a vantagem,
porém, de que a campanha terá muito pouco corpo a corpo, o que em eleições
municipais era decisivo, principalmente nas cidades de médio e pequeno portes.
Mas os que não podem se reeleger e pretendem fazer o sucessor, em
contrapartida, terão as mesmas dificuldades com seus candidatos. Além disso,
com o fim das coligações proporcionais, haverá maior número de candidatos.
Mesmo nas grandes cidades, que influenciam os destinos da
política nacional, como São Paulo, não se sabe ao certo qual será o grau de
“nacionalização” da disputa eleitoral. De certa forma, a politização do combate
à pandemia protagonizada pelo presidente Jair Bolsonaro é uma realidade, bem
como o impacto da ajuda emergencial do governo de R$ 600 (que terão um total de
cinco parcelas), principalmente nas periferias dos grandes centros e municípios
do sertão. Quanto mais profundo o grotão, maior esse impacto.
O presidente Jair Bolsonaro ainda não deu sinais de que pretende interferir diretamente nas eleições municipais, mas já pululam candidatos que se dizem bolsonaristas de primeira hora. Nas eleições passadas, também não tinha candidatos, com exceção dos filhos Eduardo, em São Paulo, e Flávio, no Rio de Janeiro, e alguns poucos aliados, mas eles apareceram durante a campanha e surfaram a onda da sua eleição, nas disputas de vagas nas assembleias legislativas, na Câmara e no Senado, além de governos estaduais. O nanico PSL, por exemplo, emergiu com a segunda bancada da Câmara; novatos na política se elegeram até a governador, como Wilson Witzel, no Rio de Janeiro. As pesquisas de imagem com resultados negativos para Bolsonaro, por causa da pandemia, podem pôr em xeque essa vinculação, mas isso, ainda, é apenas uma especulação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário