A índole antidemocrática do presidente Jair Bolsonaro, um
extremista de direita e falso liberal, enseja uma discussão entre as forças
políticas sobre quem são de fato os inimigos a serem combatidos. A esta altura
deve estar evidente para a esquerda e para centro-esquerda que os inimigos não
são os seus reflexos com sinal trocado do outro lado do espectro político.
Estes são seus adversários. Da mesma forma, direita e centro-direita devem
enxergar assim quando olham para o campo antagônico. Os inimigos de verdade
residem nos extremos. São os que atropelam leis, desrespeitam outros poderes,
ameaçam a democracia, ou os que pregam a ruptura democrática.
De um lado desses extremos estão agremiações como o Partido
da Causa Operária (PCO) e o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado
(PSTU). Do outro lado, estão partidos por onde trafega Bolsonaro, como o
Patriotas e o Partido Social Liberal (PSL). Ao lado destes, os satélites de
sempre, que são de direita mas podem ser de extrema direita se levarem alguma
vantagem pecuniária com isso. Alguns, bem pagos, já foram até de esquerda. Nem
partidos são. Formam uma aglomeração fisiológica e navegam sempre a favor do
vento.
Ficou evidente nesses primeiros 18 meses do governo
Bolsonaro o perigo permanente que o extremismo representa. Aqueles grupelhos de
poucas dezenas de pessoas que começaram a aparecer quase clandestinamente nas
manifestações contra o governo Dilma, que carregavam faixas pedindo intervenção
militar, se multiplicaram e passaram a ser abraçados em praça pública pelo
presidente e alguns de seus ministros. O que parecia uma piada ridícula em 2016
virou um problema desde o início desta administração.
Os brasileiros que consideram a democracia a melhor forma de
governo são 75%, segundo o Instituto Datafolha. Eram 69% em outubro de 2018. Um
pequeno declínio desse desejo foi captado pelo instituto em dezembro do ano passado,
quando a retórica presidencial convenceu alguns desavisados, e o apoio à
democracia desceu para 62%. Ainda assim, a maioria absoluta a defendia. O salto
positivo visto agora reflete os seguidos atentados cometidos pelo presidente da
República contra a própria democracia. O assunto ocupou de tal maneira o
noticiário e as redes sociais que teria virado conversa de botequim, se estes
estivessem abertos.
Diante desta incontestável realidade, os partidos que não
estão nos extremos deveriam começar a trabalhar contra o inimigo comum, sem
concessões, e já. É hora de ouvir o Brasil. O entendimento deve incluir as
votações de matérias no Congresso Nacional e as eleições municipais deste ano.
Respeitadas as diferenças de programa intransponíveis, todos os demais pontos
da pauta política podem e devem ser alinhados, debatidos, negociados e
viabilizados por PT, PDT, PSB, PSOL, PV, PSDB, Rede, MDB, DEM, Novo, e todos os
demais partidos dentro do arco que vai do primeiro ao último desta lista. E
juntos devem isolar os extremos, impedindo que cresçam e se espalhem.
Bolsonaro, que deu alguns sinais de apaziguamento nos
últimos dias, não é confiável. Obviamente, é possível conviver mais dois anos e
meio com ele, desde que se contenha ou seja contido. O problema maior não é o
seu governo, são os seus métodos. Estes devem ser combatidos sem trégua pelas
forças democráticas brasileiras e por instituições como partidos políticos e
entidades representativas da sociedade civil. Todos os instrumentos da
democracia devem ser usados para defendê-la. Só assim, um dia poderemos olhar
para o passado e ver o governo Bolsonaro com a mesma incredulidade com que hoje
vemos a permissão de fumar em avião, que um dia também existiu.
Facebook, o castigo
Depois de Unilever, Coca e Pepsi-Cola, Starbucks, Ford, Adidas e Microsoft,
chegou a hora de Itaú, Bradesco, Vale, JBS, Braskem, Oi, CSN e Gerdau deixarem
de anunciar no Facebook. Discurso de ódio para valer é aqui mesmo. No Brasil, o
golpe é baixíssimo e trafega livremente pelas páginas da rede mãe. E pelos seus
filhotes também.
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