O segundo semestre não será fácil. Essa é a visão que se
consegue ouvir no Congresso e entre economistas. O governo não tem um plano
organizado para sair da crise, o país não tem espaço fiscal, a dívida subiu, os
estados não têm capacidade de investimento, as empresas grandes terão
resultados ruins, e muitas pequenas e médias terão quebrado.
Economistas acham que há várias dúvidas sem resposta e que
pode haver uma contradição entre indicadores econômicos. Haverá recuperação em
alguns índices mas uma forte piora do desemprego. A conclusão é que é cedo para
dizer que o pior passou, porque as famílias vão conviver por muito tempo com a
queda na renda.
A ideia de que basta retomar as reformas bate na pergunta:
que reformas? A reforma tributária pode ser concluída, segundo se diz no
Congresso, mas como foi iniciativa do parlamento e sem participação do
executivo conseguirá apenas simplificar o sistema de impostos sobre consumo. O
que é sem dúvida uma ajuda, mas a reforma administrativa não será apresentada,
na convicção de líderes do Congresso, porque o presidente Bolsonaro não quer, e
as corporações, também não.
Alguns economistas também não apostam na agenda de retomada
das reformas, mas aplaudem a ideia de o Congresso aprovar a tributária, mesmo
sem o protagonismo do governo.
— A reforma tributária traz ganho de produtividade e pode
ter aumento de receita no curto prazo. Cria um ambiente mais favorável. Mas não
está no meu cenário a aprovação de reformas em geral. Meu cenário é recessão
brutal este ano e um crescimento de 2,5% no ano que vem. Nesse ambiente, nada
acontece — diz Vitor Vidal, da XP Investimentos.
O grande problema é que existem pelo menos três perguntas
sem respostas, na visão de Sílvia Matos, do Ibre/FGV. Quanto tempo vai durar a
pandemia, qual será o efeito do fim do auxílio emergencial às famílias e como
será a recuperação do setor de serviços?
Vidal diz que tudo o que vê em outros países mostra que esta
crise tem um fator comportamental. A economia pode abrir, mas as pessoas não se
sentirem confiantes para consumir. A expectativa entre os economistas é de um
aumento do desemprego neste semestre.
— Temos que olhar para o Brasil, para a rigidez do mercado
de trabalho. Dados da Pnad mostraram que quem perdeu mais foi o pobre, o
informal. Houve uma recomposição boa da renda, com os R$ 600 do governo, agora
prorrogado. O intuito é que quando a renda for suspensa, já haja confiança para
dar tração na economia — diz Vidal.
O cenário está nebuloso na visão de economistas e líderes
políticos, mas uma coisa todos concordam. Será um semestre difícil.
— O segundo trimestre foi o auge da pandemia e deve ter uma
queda de 10%. Teremos uma recuperação fraca no terceiro trimestre, com quedas
em termos anuais. Na margem, vamos ver alguns números positivos, mas em termos
anuais vai contrair — diz Silvia.
— A gente cai em torno de 11% ou 12% no segundo trimestre e
sobe 7% no terceiro, mas na margem. No anual, sai da base de -13% para -7% e
depois -3% — acredita Vidal.
Há ainda, explica o economista da XP, o grande problema da
dívida, que chegará a 98%. É preciso um plano para enfrentá-la:
— O cenário fiscal é muito complicado para o ano que vem.
No Congresso, o que se diz é que no governo não ficou
resolvida a disputa sobre como será a retomada, se seguindo o grupo dos
militares, Tarcísio de Freitas e Rogério Marinho, que advogam uma presença
maior do Estado na recuperação, ou segundo a direção do ministro Paulo Guedes.
O conflito foi congelado pelo avanço da pandemia, mas não foi claramente
arbitrado pelo presidente naquela ruinosa reunião ministerial. Entre os líderes
políticos também se diz que privatização não ocorrerá porque o Senado já disse
que não quer votar a Eletrobras e não há decisão do presidente sobre as outras
empresas.
A aprovação de uma vacina para o coronavírus melhoraria o quadro, mas não há garantias de quando isso vai acontecer. O cenário neste segundo semestre está assim, muita incerteza sobre a retomada e dúvidas sobre a evolução da pandemia. Os indicadores parecerão bons em termos de atividade quando comparados com a queda do segundo trimestre, mas há o risco de uma elevação muito forte do desemprego. Ninguém sabe como estarão as empresas ao fim da pandemia, nem que resposta o governo dará para o pós-auxílio emergencial e para os muitos problemas econômicos que o país enfrentará.
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