A escolha do quarto ministro da Educação de seu governo pode
ser também a definição do que será o governo Bolsonaro no tempo que lhe resta.
Esse tempo não depende unicamente dele, mas o comportamento, digamos assim,
recatado dos últimos dias pode lhe dar mais fôlego, ou pelo menos não apressar
o fim do mandato.
Amordaçado pelas circunstâncias nada favoráveis depois da
prisão de Queiroz e do processo contra seu filho Flávio, o presidente
encontra-se fragilizado diante da mudança de postura. A escolha de Renato
Feder, atual secretário de Educação do Paraná, leva em conta aspectos técnicos
que não agradam a setores importantes de apoiadores, embora cada um tenha
razões distintas para esse incômodo.
Os militares têm candidato próprio, o reitor do Instituto
Tecnológico da Aeronáutica (ITA) Anderson Ribeiro Correia, e consideram que a
escolha de um secretário com ambições políticas será prejudicial. Esses
assessores palacianos, que ganharam mais espaço nos últimos tempos, querem um
governo, se não de “notáveis”, como na tentativa de salvar Collor do
impeachment, pelo menos técnico, e não militarizado.
A escolha do reitor do ITA junta essas duas coisas: dirige
uma instituição de ensino militar de alta qualificação, e não é militar. A
excelência do ITA vem de sua reconhecida qualidade de ensino, sendo uma
instituição em que não é preciso querer ser militar para nela ingressar.
Os evangélicos querem alguém da mesma linha política que
Bolsonaro vinha mantendo no MEC desde o início de seu governo, mas Anderson
Correia também é evangélico. Não parece ser do tipo histriônico de um
Weintraub, embora já o tenha elogiado em tuíte que depois apagou. Os olavistas
fazem campanha contra Fader por ter financiado João Dória na eleição para
governador de São Paulo, e tanto evangélicos quanto olavistas o “acusam” de ser
ligado a Jorge Paulo Lehman, que tem interesse em projetos educacionais, como
se isso fosse defeito. Querem que o sucessor de Weintraub seja um de seus
assessores, de igual calibre ideológico.
O presidente Bolsonaro, desde que teve que deixar amortecido
seu gênio “incontrolável” para se enquadrar nas normas e regras democráticas,
procura um caminho intermediário entre os bolsonaristas radicais – que
representariam apenas cerca de 15% do seu eleitorado segundo o Datafolha – e
outros setores que o apóiam, como empresários e políticos do centrão.
Nesses setores, Feder tem boa acolhida, mas ao convidá-lo o
presidente Bolsonaro pediu que só aparecesse em Brasília na segunda-feira.
Provavelmente para testá-lo na frigideira da opinião pública durante o fim de
semana. Renato Feder ficou numa situação constrangedora, preterido na escolha
para o ministério da Educação após ter sido recebido pelo presidente Jair
Bolsonaro.
Pareceu que não tinha passado no teste. Pelo menos é uma
pessoa que se dedica à educação, e o seu pensamento econômico e político
combina com o liberal do ministro da Economia Paulo Guedes. É co-autor de um
livro sobre como se livrar do peso do Estado para o país se desenvolver, e cita
muito Margareth Tatcher, Ronald Reagan e outros liberais.
Escreveu esse livro quando tinha menos de 30 anos, e hoje
reescreve seus pensamentos com menos liberalismo e mais realismo. Bom, porque
ao se referir à sua proposta polêmica sobre financiamento da educação através
de vouchers do governo, para permitir que os alunos menos favorecidos pudessem
cursar escolas privadas de boa qualidade, usou uma frase infeliz para defender
a superioridade da iniciativa privada sobre a governamental. Disse que assim
como é melhor a iniciativa privada fritar hambúrgueres, a mesma coisa acontece
com a educação.
Ele defendia um caminho até a privatização total do ensino,
inclusive das universidades, tese que já abandonou. Hoje, diz estar convencido
de que o ensino público pode ser de qualidade, e se preocupa com problemas
concretos, como evasão escolar, melhoria do aprendizado que se refletiria
favoravelmente nos exames internacionais como o Pisa, onde o Brasil
invariavelmente vai mal, melhoria da gestão das escolas.
Seria representante de uma ala ideológica não radicalizada, ao contrário de seus antecessores, responsáveis por uma inércia educacional nesses primeiros meses de governo Bolsonaro que só fez piorar o estado já precário de nossa educação.
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