O PT e os lulistas em geral esfregam as mãos e comemoram os
ataques contra a Lava Jato iniciados pela Procuradoria-Geral da República
(PGR), mas deveriam parar, pensar e lembrar da máxima do ex-deputado José
Genoino, um dos petistas mais lúcidos, depois abatido, talvez exageradamente,
pelo mensalão: “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”.
Uma coisa é a PGR e ícones da área jurídica detectarem
“excessos” na Lava Jato e ameaçarem até punir os líderes da força-tarefa, o que
reforça o discurso de vitimização do ex-presidente Lula. Outra coisa é isso
favorecer objetivamente Lula. Muda algo na Justiça e no STF? A PGR, com um
escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro fora da lista tríplice, tem alguma
simpatia pelo petista?
No limite, os que atacam a Lava Jato na PGR até admitem que
houve “algum excesso” no caso do triplex do Guarujá, pelo qual Lula foi
condenado em primeira e segunda instância e passou 580 dias preso. Mas,
automaticamente, defendem que ele deve ser preso, sim, é pelo sítio de Atibaia,
recheado de provas robustas.
Logo, a adesão do PT à demolição da Lava Jato pela PGR é
para insistir em Lula vítima, mas principalmente é contra o ex-juiz e
ex-ministro Sérgio Moro e a força-tarefa. Uma vingança, com forte efeito
colateral: uma aliança entre opostos. Ao demonizarem a Lava Jato, quanto o PT
ajuda o bolsonarismo na PGR e quanto a PGR bolsonarista reforça a vitimização
de Lula?
Ao dar o primeiro tiro em Curitiba, a PGR atraiu a
artilharia do PT, OAB, TCU, da Corregedoria do MP e de condenados ou
processados (do Centrão, MDB e PSDB?) que pretendem transformar os “heróis” da
Lava Jato em “vilões”. Eles, porém, não são heróis, muito menos vilões e, como
Moro alertou em Live do Estadão, em 3/7, a Lava Jato foi um benigno “divisor de
águas” contra a eterna impunidade. “Não entendo, sinceramente, aonde quem ataca
a Lava Jato quer chegar”, provocou.
Há versões opostas para o marco zero da guerra, a ida da
procuradora Lindôra Araújo a Curitiba. Considerada a maior bolsonarista da PGR,
ela reclamou que foi maltratada ao pedir os arquivos das operações e levar um
técnico para uma varredura nos equipamentos. Concluiu que estavam “com medo”.
Já o pessoal de Curitiba diz que Lindôra chegou “com tom intimidatório, de
interrogatório”, mas eles se dispuseram a liberar arquivos e só ressalvaram
que, no caso de dados sigilosos, o acesso depende de procedimentos e
justificativas formais, para “não gerar nulidades”. A batalha virou guerra.
A PGR acusa os procuradores de ter
gravadores/interceptadores usados para “grampos”. Eles negam com as notas
fiscais. Também diz que os procuradores dissimulavam investigações contra
políticos com foro privilegiado, registrando só partes dos seus nomes. E eles
negam dizendo que esses nomes surgiram inadvertidamente, em investigações que
eram contra terceiros. Tudo isso está na Corregedoria, onde Lindôra tem portas
abertas.
Na versão dos procuradores, ela chegou em pé de guerra e
eles tentaram amenizar o clima e cooperar. E justificam: não dá para confrontar
a PGR, é uma guerra perdida. Mas quem perde a guerra? A corrupção e o crime
organizado? Ou quem combate a corrupção e o crime organizado?
Não é má ideia atualizar o modelo, corrigir excessos, integrar a PGR nas operações, compartilhar as informações e evitar as críticas recorrentes de que “os fins não justificam os meios”. Mas isso deveria surgir de discussões sérias e da busca de consensos. Aparentemente, a intenção não é essa, é demolir a Lava Jato e demonizar seus líderes. Quem entra nessa? O PT? O PSDB com o senador José Serra (SP) na rede? É melhor definir bem o inimigo antes de entrar em guerra alheia.
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