Os números do mercado de trabalho preocupam. Houve uma
redução de 7 milhões de pessoas ocupadas no trimestre encerrado em maio em
relação ao mesmo período do ano passado. Os informais são, de longe, os mais
afetados (menos 5,7 milhões).
As medidas do governo para conter a queda do emprego com
carteira, no entanto, ajudaram a evitar um quadro bem pior. O programa de
redução temporária de salários e de suspensão de contratos beneficiou 11,7
milhões de trabalhadores até o dia 26 de junho.
Os dados do emprego com carteira do Caged reforçam essa
avaliação, pois o 1,4 milhão de vagas líquidas fechadas na mesma comparação
decorreu muito mais da baixa geração de vagas do que de demissões.
Comparações mundiais são particularmente complexas, até
porque as diferentes legislações trabalhistas têm impacto na flexibilidade para
contratar e demitir. Mesmo assim, vale citar que, de uma lista de 32 países com
informações disponíveis em maio último, o Brasil está no grupo de países mais
preservados em termos de aumento da taxa de desemprego (12,9% ante 12,3%), em
que pese o fato de partir de uma base elevada, das piores no mundo, sofrendo as
consequências da recessão passada e do baixo crescimento.
Esse resultado, no entanto, camufla uma dura realidade, que
é o desalento daqueles que não buscam trabalho, pois sabem que não terão
sucesso, inclusive por conta do isolamento social. Não fosse isso, a taxa de
desemprego estaria em 20,3%. Isso significa que em um possível cenário de lenta
geração de vagas e elevação paulatina da procura por trabalho, a taxa de
desemprego poderá subir muito nos próximos meses. Ações são necessárias.
A situação de outros países da América Latina – que também
sofrem muito com a informalidade elevada – é bem pior: tiveram alta expressiva
da taxa de desemprego, apesar da redução da procura por trabalho até mais forte
do que a ocorrida no Brasil. O desemprego na Colômbia está em 21,4% ante 10,5%;
Peru, com 13,1% ante 6,7%; e Chile com 11,2% ante 7,2%. Em todos esses casos, a
queda de ocupados foi bem mais expressiva do que no Brasil.
Quanto aos informais, mais penalizados, medidas de socorro
não têm faltado. O auxílio emergencial de R$ 600 beneficia em torno de 65
milhões de pessoas, cifra sensivelmente acima da soma de informais (40 milhões)
e microempreendedores individuais (10 milhões) – nem todos elegíveis.
O governo prorrogou por mais dois meses o benefício por
conta do isolamento social. Contabilizando os cinco meses totais, o custo do
programa deverá ultrapassar R$ 250 bilhões, valor muito além da renda gerada
pela metade mais pobre da população, que não ultrapassa R$ 150 bilhões.
A transferência de renda é uma medida relativamente simples
de ser implementada e tem grande apelo político, mas não convém perder de vista
a necessidade de preparar a mão de obra para o retorno ao mercado de trabalho e
estimular a geração de vagas em um quadro de fechamento de negócios. São pautas
tecnicamente mais difíceis e menos sedutoras politicamente, mas que precisam
ser enfrentadas.
Rever e focalizar os vários programas sociais de
transferência de renda entrou no radar do governo. A reavaliação de políticas
públicas tornou-se ainda mais urgente.
Não há dúvidas que, mesmo no curto prazo, passado o
isolamento social, é necessário ir além da transferência de renda. Não só pelo
elevado custo do auxílio emergencial, mas pelo impacto na oferta de trabalho
dos indivíduos.
Ricardo Paes de Barros recomenda a “inclusão produtiva”. A
renda dos indivíduos decorreria da prestação de serviços, notadamente aqueles
essenciais em tempos de pandemia, como os associados a saúde, medidas
sanitárias e assistência social. Avalio que também será necessário redirecionar
recursos para a abertura de novas empresas e modernização das atuais por meio
da redução de renúncias tributárias ineficientes e injustas.
Além disso, deveria se reduzir obrigações que oneram a
contratação de trabalhadores, como a contribuição do Sistema S. Precisamos
estimular o trabalho. Isso sim.
*Consultora e doutora em economia pela USP
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