Mesmo para os padrões mais rasteiros da política brasileira,
não deixa de provocar espanto a tradição de envolvimento de governadores do Rio
de Janeiro em escândalos de corrupção.
Dos ex-dirigentes eleitos no estado que permanecem vivos
(Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho, Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão e
Moreira Franco), todos foram afastados ou presos por suspeitas de malversação
de recursos.
Essa pouco ilustre galeria passa agora a contar com o atual
mandatário, Wilson Witzel (PSC), acusado de ocupar
um dos “vértices da pirâmide” de um esquema fraudulento de contratos
ligados ao combate da pandemia de Covid-19.
A decisão de afastá-lo do cargo por 180 dias, tomada pelo
ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça, representa, até o
momento, o desdobramento mais estrepitoso da crise que se instalou na
administração fluminense nos últimos meses.
No início de maio, uma operação do Ministério Público do Rio
levou à prisão do ex-subsecretário de Saúde e de seu substituto.
Posteriormente, foi detido o ex-titular Edmar Santos, solto neste mês após
acordo de delação premiada.
O grupo é suspeito de desviar recursos de contratos
emergenciais para a compra de respiradores. As investigações logo atingiram o
próprio Wilson Witzel, alvo da Operação Placebo, deflagrada em maio pela Polícia
Federal. O escândalo pulverizou seu apoio político.
Em junho, 69 dos 70 deputados da Assembleia Legislativa do
Rio apoiaram a abertura
do processo de impeachment do governador.
Na operação desta sexta (28), foram também expedidos 17
mandados de prisão, incluindo o do presidente nacional do PSC, Pastor Everaldo,
e 84 de busca e apreensão, que atingiram o vice-governador, o presidente da
Alerj e a primeira-dama do estado, Helena Witzel.
Em que pese a competência do STJ para determinar o
afastamento do governador fluminense, causa espécie que decisão tão grave tenha
sido proferida por um único ministro, e não pelo colegiado, do qual se espera
agora que analise o caso com máxima celeridade.
Seja qual o for desfecho, o novo revés, somado ao processo
de impeachment, é golpe duríssimo para o destino político de Witzel.
O ex-juiz surfou a onda bolsonarista para eleger-se
governador, embora hoje seja desafeto do presidente. Apoiado no populismo
policial e numa imagem de probidade, chegou a ambicionar a disputa ao Planalto
em 2022. Por ora, sua derrocada parece tão vertiginosa quanto foi sua ascensão.
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