Na fatídica reunião de 22 de abril, Paulo Guedes (Economia)
elencou a Jair Bolsonaro e seu gabinete ministerial as torres do inimigo que o
governo tinha por objetivo derrubar. A primeira era o que chamou de excesso de
gastos na Previdência. Jaz tombada, na avaliação do ministro. A segunda: os
juros altos —missão, por ora, cumprida.
“Todo mundo tá achando que tão distraído, abraçaram a gente,
enrolaram com a gente. Nós já botamos a granada no bolso do inimigo. Dois anos
sem aumento de salário. Era a terceira torre que pedimos pra derrubar. Vamos
derrubar agora. Não tem jeito de fazer um impeachment se a gente tiver com as
contas arrumadas.”
Guedes referia-se às despesas com o funcionalismo e ao
congelamento de salários dos servidores, dispositivo enxertado no socorro a
estados e municípios em crise. Vangloriava-se por barrar aumentos até 2021,
camuflando a inépcia em entregar a esperada reforma do Estado, apesar de suas
festejadas credenciais econômicas.
Na articulação pelo congelamento, o ministro levou uma
rasteira do chefe, que avalizou uma lista de exceções à regra antiaumento e
depois viu-se obrigado a vetar tal lista.
Nesta semana, a bazuca contra a terceira torre voltou-se na
direção de Guedes. O Senado derrubou o veto de Bolsonaro —ato covarde perante
um país de 12,3 milhões de desempregados e com 46% da população afetada pela
redução de renda na pandemia.
De memória curta, o presidente incorporou o discurso da
austeridade. Guedes acusou o Senado de cometer crime e pediu colo a Rodrigo
Maia (Câmara) e ao centrão. Na cooptação, valeu-se das moedas de troca usuais:
emendas parlamentares e dinheiro para socorrer setores com poder de lobby.
Estratégia exitosa e veto mantido. À espreita, o Senado promete dar o troco
pelo selo de Casa da temeridade fiscal, impondo derrotas em pautas caras ao
governo.
Para acalmar o comichão da gastança eleitoral, o Planalto
acena com pacote de bondades na próxima semana. O Renda Brasil desencantará.
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