O personagem Steve Bannon é mais perigoso do que um reles
vigarista que se apropriou de fundos para construir o muro, separando México e
EUA. O seu público predileto não são os otários. Ele compreendeu o espírito do
tempo: veloz e furioso; identificou o espaço em que poderia usar o seu talento,
ambição, a “raiva original” das “elites”, opressoras do povo, e ao
estabilishment por elas criadas para ganhar muito dinheiro e proteger os
privilegiados. E acertou precisamente ao perceber a fragilidade dos laços da
representação política, pedra de toque do democracia liberal.
Embora arriscada, a comparação decorre do seu percurso na
cena política: homem de ideias e ação assim como Trotsky e uma capacidade
extraordinária de mobilizar mentes e corações a exemplo da obra de Goebbels com
a voz do rádio e símbolos, arrastando o mundo para a tragédia de uma guerra
mundial contra o risco do totalitarismo nazista.
Importante destacar que para ele “a política deriva da
cultura” à semelhança de Gramsci. E percebeu a internet como um instrumento
precioso para colocar em prática a “a ideologia populista” como a força motriz
de ganhar eleições e, no salto ousado, criou o projeto Movimento para levar as
massas europeias contra o que chamava “o partido de Davos”, ambicionando fundar
a Internacional Populista e realizar o sonho de criar o primeiro “partido
algoritmo” do mundo.
É provável que, como delinquente, sua carreira de ideólogo
do populismo de extrema direita sofra danos irreparáveis. Todavia sua obra como
formulador de um ideologia de extrema e influência vitoriosa em vários
episódios já são seriamente perigosos. Não podem ser subestimados. E nós,
brasileiros, temos que estar atentos para o risco que corremos.
Eis alguns mandamentos doutrinários da cartilha populista:
ocupar a mente do indecisos, dos ressentidos, dos extremistas, com mensagens
que incendeie as emoções negativas; explorar as teorias da conspiração; usar a
mentira e o absurdo que que são mais rápidos nos seus efeitos do que a verdade;
ocupar constantemente a cena midiática com gafes, imagens chocantes,
declarações polêmicas; alimentar permanentemente os apoiadores das extremas com
mensagens ultraconservadoras de modo que, o confronto, inviabilize o centro
político; suprir a Era do Narcisismo com fortes dosagens de personalismo de
modo que prevaleça a lógica centrífuga da política sobre a lógica centrípeta,
tendente a fortalecer o centro; utilizar o escárnio como forma debilitar o
papel das instituições, ultrajando a política como ocorreu na Itália em
consequência da “Operação Mãos Limpas”; para Bennon, a Itália é o epicentro do
populismo, o “Vale do Silício”, tendo em Matteo Salvini, Beppe Grillo e Luigi
Di Maio, líder do movimento “5 Estrelas”, os grandes protagonistas da
exemplaridade populista.
Como fundador e, hoje, diretor do site Breitbart News,
Bannon tornou-se um estrategista digital de campanhas políticas. Trump foi o
seu maior “cliente”; Viktor Orban ouve seus conselhos; na mesma linha,
emprestou sua expertise à campanha de Bolsonaro e segue próximo à família por
me io do Deputado Eduardo Bolsonaro.
No livro “Engenheiros do Caos”, Giuliano Da Empoli reconhece
que Bennon e seu manual, feito de ameaças, insultos, mentiras deliberadas e
complôs, depois de ter ficado à margem do sistema durante décadas, já ocupa o
centro nevrálgico”.
Evidente que o autor não podia adivinhar tão auspicioso
momento que o conselheiro se transformasse no personagem das páginas policiais.
É com alívio que se pode escrever como nota de rodapé: Bannon é um bandido e
será cercado pelos muros de uma penitenciária.
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