O presidente Jair Bolsonaro foi alvo de um massacre nas
redes sociais, especialmente no Twitter, depois de ter ameaçado o repórter de O
Globo afirmando que tinha vontade de encher a boca dele com uma porrada. Na
madrugada, segundo postou o especialista Fabio Malini, Bolsonaro fora marcado
em mais de 1.035.521 mensagens únicas sobre por qual motivo não respondeu ao
ser questionado a respeito dos R$ 89 mil depositados por Fabrício Queiroz e sua
mulher na conta da primeira dama Michele Bolsonaro. A pergunta viralizou, e foi
retuitada por jornalistas, artistas e influenciadores.
O episódio permite concluir que nas redes – que sempre foram
território do bolsonarismo — e possivelmente fora delas, tem muita gente
anestesiada, mas morta não. Na internet e fora dela, são imprevisíveis as
fagulhas que acabam incendiando reações. Quando menos se espera, elas
aparecem. Pode não ter a força de um aumento de passagem como o que
apertou o gatilho das manifestações de rua em 2013, e possivelmente esse
acontecimento da semana acabará por aí. Mas algo aconteceu e pode acontecer de
novo.
Importante saber se as forças do antibolsonarismo vão
conseguir usar o episódio, que juntou uma oposição desorganizada, para fazer
crescer a reação contra o governo. Provavelmente não. A oposição institucional
e partidária anda lenta, e quando chegar à cena do crime provavelmente todo
mundo já terá ido embora. Terá perdido mais uma oportunidade de mostrar que
Jairzinho Paz e Amor é um perfil falso, atrás do qual se esconde o mesmíssimo
político autoritário e raivoso.
Do lado governista, a turma do pano acordou cedo e já tratou
de propagar suas versões, a principal delas de que a culpa é da segurança, que
não afastou Jair Bolsonaro dos jornalistas quando começaram as perguntas
“inconvenientes”. Filtrar perguntas de entrevistas é uma função que – ainda bem
– nenhum segurança nunca teve no Planalto. Mas nesse governo tudo pode
acontecer, até mesmo isso.
A dúvida maior, porém, é o próprio Bolsonaro. A fera foi
contida por algum tempo, diante dos perigos do caso Queiroz e da própria
Covid-19 que contraiu. Mas agora, animada pelas pesquisas de popularidade, se
soltou, como mostra a retomada dos passeios de domingo. Vai ficar difícil
fazê-la voltar para a jaula.
Jornalista, formada na Universidade de Brasília em 1982. De
lá para cá, trabalhou como repórter, colunista, comentarista, coordenadora,
chefe de redação ou diretora de sucursal em diversos veículos, como O Globo,
Estado de S.Paulo, SBT e TV Brasil (EBC). Foi ministra chefe da Secretaria de
Comunicação da Presidência da República de janeiro de 2011 a janeiro de 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário