Na Venezuela, o chavismo contaminou a imagem de isenção dos
militares como o bolsonarismo tenta fazer por aqui. No México, eleito depois de
prometer moralizar a vida pública, o presidente Andrés López Obrador, um
político de esquerda, está às voltas com denúncias que o embaraçam e à sua
família. Lembra algo?
Vídeos divulgados na última quinta-feira mostram um dos
irmãos de Obrador, Pío Lopes, recebendo dinheiro de David León, diretor da nova
distribuidora estatal de medicamentos. As imagens são de 2015. Os pagamentos já
eram feitos há um ano e meio. Foram cerca de dois milhões de pesos, o
equivalente a 500 mil reais.
Em um dos vídeos, León, que na época trabalhava como
consultor, vai à casa de Pío López para lhe entregar um milhão de pesos (250
mil reais). E pede que informe ao seu irmão sobre a origem do dinheiro: “Avise
o advogado […] que nós o estamos apoiando”. Pío responde: “Irmão, irmão. Já
sabe, já sabe perfeitamente bem”.
López Obrador afastou David León: “Vamos procurar outra
pessoa enquanto isso é esclarecido e ele fica limpo.” E disse que não sabe se o
dinheiro foi declarado à Justiça, algo obrigatório. Esquivou-se: “Só sei que
muitas pessoas contribuíram com recursos para a campanha.” No México, caixa 2
também é crime.
A divulgação dos vídeos ocorre em meio ao chamado Caso
Lozoya. Uma gravação mostra um grupo de políticos recebendo subornos e a
denúncia do ex-diretor da Pemex (a Petrobras mexicana) Emilio Lozoya que
implica três ex-presidentes da empresa e 14 outros políticos em episódios de
corrupção.
Foi López Obrador quem bancou a divulgação do Caso Lozoya
para “purificar a vida pública”. Serviu para que comparasse os valores
envolvidos nas duas situações: o equivalente a 90 mil dólares, entregues ao seu
irmão, e o equivalente a 200 milhões de dólares, que ele tratou como “corrupção
do dinheiro público”.
No mesmo dia em que o presidente mexicano tentava se apartar
de mais um escândalo que abala seu governo, no Brasil a defesa do senador
Flávio Bolsonaro recorreu da decisão da Justiça que autorizou o prosseguimento
das investigações sobre seu eventual envolvimento no crime de lavagem de
dinheiro.
O novo procurador-geral da Justiça do Rio será escolhido em
dezembro próximo. Comandará o órgão que investiga Flávio e também seu irmão
Carlos, vereador. Ameaçado de impeachment, o governador Wilson Witzel admite
negociar a indicação de um nome ao gosto de Flávio, desde que não perca o
cargo.
Flávio parece preferir negociar a indicação com Cláudio
Castro, o vice de Witzel, e que assumirá a vaga se o governador for derrubado.
Nada disso seria necessário se o próprio Flávio tivesse convencido da sua e da
inocência do irmão. Não é verdade?
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