O súbito interesse do presidente Jair Bolsonaro pelos pobres
do País, jamais demonstrado em seu passado como parlamentar e ausente na
campanha que o elegeu em 2018, deveria ser motivo de aplausos. Afinal, quando
um presidente da República usa a força de seu cargo para colocar a pobreza
entre suas principais preocupações, tende a transformar a superação da
desigualdade em prioridade na agenda política.
No entanto, é notável o contraste entre o empenho de
Bolsonaro em criar um generoso programa de transferência de renda e seu
desinteresse patente em promover reformas que criem condições para o
desenvolvimento e a geração de empregos. Ao agir assim, o presidente não
demonstra real interesse na superação da pobreza, que só será possível com
mudanças estruturais que deem ao Estado capacidade efetiva de prover, de
maneira sustentável, o mínimo necessário para que milhões de brasileiros deixem
efetivamente de ser pobres.
Se estivesse realmente interessado em transformar a vida dos
pobres, o presidente Bolsonaro estaria, desde seu primeiro dia no governo,
engajado na promoção dessas reformas estruturais. Contudo, malgrado as
retumbantes promessas eleitorais de uma revolução no Estado, Bolsonaro nada fez
ou faz, de fato, para liderar os debates sobre essas reformas. Ao contrário,
sempre que instado a se posicionar, ou cria dificuldades - como na reforma da
Previdência, em que agiu como sindicalista em favor de algumas categorias de
servidores - ou simplesmente engaveta projetos - caso da urgente reforma
administrativa.
A superação da pobreza não se dará apenas pela suposta
vontade do presidente. Num passado não muito distante, os governos petistas
alardearam ter acabado com a pobreza a partir de programas de transferência de
renda, em especial o Bolsa Família. De fato, durante algum tempo, o complemento
de renda para famílias muito pobres foi essencial para lhes dar um pouco de
dignidade em meio à miséria, mas o Estado - inchado, ineficiente e perdulário -
não conseguiu lhes proporcionar nada além disso. Como resultado, esses
vulneráveis voltaram à miséria assim que começou o recente processo de
degradação econômica do País, fruto das lambanças lulopetistas.
Ao que consta, Bolsonaro não foi eleito para repetir os
erros daquela desastrosa gestão, e no entanto a cada dia que passa se parece
mais com os demagogos que as urnas puniram na eleição passada. O roteiro é
muito parecido: recusa-se a tocar nos privilégios dos servidores públicos; não
se engaja em privatizações nem em redução da máquina do Estado; quer gastar um
dinheiro que não existe, flertando com a irresponsabilidade fiscal; e agora
inventa um programa de transferência de renda com o óbvio objetivo de sustentar
sua popularidade em patamares suficientes para manter suas chances de
reeleição.
O caminho para vencer a pobreza crônica no Brasil não tem
atalhos. É longo e demanda do presidente da República uma imensa capacidade de
articulação política. Junto com os programas de transferência de renda, devem
vir medidas concretas para que seus beneficiários deixem de depender do auxílio
no prazo mais curto possível. Para isso, é preciso que haja uma educação
pública de qualidade, capaz de dar horizontes reais de crescimento para os
filhos dessas famílias pobres. É preciso também lhes proporcionar uma boa saúde
pública e, de uma vez por todas, cobertura universal de saneamento básico. Para
sustentar tudo isso, é preciso que o Estado deixe de dragar recursos públicos
escassos para satisfazer os privilegiados de sempre, a título de “direitos”, e
facilite a vida de quem empreende e gera empregos.
Com um presidente que transformou o Ministério da Educação
em piada de mau gosto, que trocou ministros da Saúde em plena pandemia por
capricho pessoal, que não quer nem ouvir falar em reforma administrativa, que
sabota os esforços do Ministério da Economia para respeitar o teto de gastos e
cuja única preocupação é com sua reeleição, tudo indica infelizmente que os
pobres continuarão pobres - e com eles o Brasil.
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