Em 2018 Jair Bolsonaro era o presidente eleito quando teve
que explicar um depósito de R$ 24 mil feito pelo faz-tudo Fabrício Queiroz na
conta de sua mulher. À época ele disse que esse dinheiro se relacionava com uma
dívida de R$ 40 mil que o ex-PM tinha com ele.
O senador Flávio Bolsonaro conversou com Queiroz e deu-se
por satisfeito: “Ele me relatou uma história bastante plausível e me garantiu
que não há nenhuma ilegalidade”.
O vice-presidente eleito Hamilton Mourão acrescentou o
essencial elemento de dúvida: “O ex-motorista, que conheço como Queiroz,
precisa dizer de onde saiu este dinheiro.(…) Algo tem, aí precisa explicar a
transação.”
Passaram-se dois anos, e nada aconteceu de bom para os
Bolsonaros. O depósito de R$ 24 mil podia até ser parte da quitação de uma
dívida de R$ 40 mil. Mas o ervanário depositado pelos Queiroz foi de R$ 89 mil.
Bolsonaro não gosta de ouvir essa pergunta, mas precisa se habituar a conviver
com ela. A ideia de “meter a porrada” em quem a faz é inútil, porque ela virá
muitas vezes do Ministério Público. Os procuradores não têm pressa, só
perguntas, e até hoje os Bolsonaros não contribuíram para o esclarecimento do
que seriam seus rolos com Queiroz.
O que, em 2018, eram movimentações financeiras estranhas de
um faz-tudo virou coisa mais pesada. Onze servidores alocados nos gabinetes dos
Bolsonaros faziam depósitos nas contas de Queiroz. Entre eles estavam a
ex-mulher e a mãe do ex-PM Adriano da Nóbrega, um miliciano foragido, que foi
morto numa operação policial no interior da Bahia. Queiroz nunca deu uma
explicação convincente para seus rolos. Sumiu e apareceu na casa de Atibaia do
advogado Frederick Wassef. O doutor defendia os interesses de Flávio Bolsonaro.
Todas as conexões de Queiroz tinham o aspecto comum às malfeitorias da pequena
política do Rio de Janeiro, até que os repórteres Luiz Vassalo, Rodrigo Rangel
e Fabio Leite revelaram que o doutor Wassef recebeu R$ 9 milhões para defender
os interesses da JBS junto à Procuradoria-Geral da República e aos tribunais de
Brasília. Em outubro passado, meses antes da manhã em que Fabrício Queiroz foi
preso em sua casa, Wassef estava a serviço da empresa. Atravessaram a rua para
entrar no Caso Queiroz.
A JBS é hoje a maior empresa do país em receita, superando a
Petrobras. Produzindo alimentos, ela foi uma das “campeãs nacionais” durante o
consulado petista e tornou-se uma vaca leiteira para as criaturas que habitam
aquilo que o doutor Paulo Guedes chamou de “pântano político, (com) piratas
privados e burocratas corruptos”. Em 2017 Joesley Batista, um de seus
controladores, quase derrubou o governo de Michel Temer gravando uma conversa
escalafobética que teve com ele para azeitar o acordo de colaboração que fecharia
com o procurador-geral Rodrigo Janot.
Em 2018, quando o Coaf desconfiou das contas de Queiroz,
puxando os fios chegava-se aos Bolsonaros e às pizzarias de Dona Raimunda, mãe
do miliciano Adriano da Nóbrega. Passaram-se dois anos, nenhuma pergunta foi
respondida e, puxando o fio do ex-PM faz-tudo dos Bolsonaros, bateu-se em
Wassef, que teve como cliente a JBS, uma das maiores empresas de alimentos do
mundo.
Jornalista ítalo-brasileiro, comentarista diário de alguns
dos principais jornais do país, e autor, dentre outros, da coleção As Ilusões
Armadas, em cinco volumes.
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