Porque eu também quero saber: por que a sua esposa,
Michelle, recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz? Não entendeu? Quer que eu
pergunte de novo? Então aí vai: presidente, por que a sua esposa, Michelle
recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz? Me diga mais: e seu filho, dono de
laranjal, operador de rachadinhas, o pimpolho Flávio Bolsonaro, tenta esconder
e manobrar para não ser preso por qual razão? Aqueles 1.512 depósitos feitos em
dinheiro vivo na lojinha de chocolate do filhote senador e aplicados na boca do
caixa para esconder as manobras do fisco em pequenas quantias a cada lançamento
se deu a troco de que? Desembolso aos milhões, capaz de pagar apartamento,
salinhas comerciais, despesas familiares, escolas das filhas, médicos,
hospitais. Tem até cheque de milícia armada e criminosa, presidente! Algumas de
suas ex-mulheres também receberam. O outro rebento, Carluxo, idem. A família
inteira metida na boquinha do dinheirinho fácil e marginal, tomado em
esqueminhas chulos de servidores públicos que lhe prestavam vassalagem.
Diáconos de um clã político baixo clero cujas revelações vêm se multiplicando
aos montes e o senhor não quer responder? Vai ter de dar muita porrada na boca
de muita gente para saciar tantas perguntas que surgem dos abusos em série. Até
seu advogado, Frederick Wassef, e o amigão dileto de décadas de pescaria
Queiroz dividem a cena das tramoias, milimetricamente armadas fora da ordem
legal. Presidente, não adianta ser tão arrogante – autoritário como sua
natureza sempre demonstrou. Isso não lhe ajudará a esconder a incongruência de
atos desabonadores. Entenda que o papel público que lhe foi outorgado não é
para déspotas. Não nos tempos de hoje, nem em uma democracia. A braveza e
valentia caricatas, de arrabalde, deveriam ficar circunscritas àquelas
encenações que antes o senhor fazia para recrutas da caserna. A vida civil pede
compostura.
Ninguém aqui lhe deve subserviência cega. Não estamos na era
feudal do soberano e seus servos. Aqui fora tocamos, da melhor maneira
possível, uma democracia que pelo voto direto e da maioria lhe aboletou como
inquilino na cadeira de comando. Mas alto lá com os seus vitupérios! Dê porrada
na boca de um de nós e vai para a cadeia. É crime, previsto em lei. O senhor
sabe! Já a pergunta que um profissional de imprensa lhe fez, essa veio por
dever de ofício. Entenda a diferença de uma vez por todas. O senhor, como
funcionário público, no topo da burocracia estatal, deveria dar o exemplo. Se
alguém dissesse que iria encher a sua boca de porrada, qual exatamente a reação
que a ameaça lhe provocaria? Fico curioso, embora imagine o tipo de disposição
de uma figura desbocada como a sua encarando tão escrachada violência pública.
O senhor desrespeitou um cidadão, um profissional, um brasileiro que, assim
como a sua figura, não merece o desacato. Menosprezo partindo especialmente de
quem se acha estar por cima é o ardil de tiranos. Enorme distância guarda esse
comportamento daquele de um verdadeiro estadista. Exatamente em que momento o
senhor perdeu a noção do que vem a ser a zeladoria do bem estar social? Ou será
que nunca teve a menor ideia do que se trata isso? Não será enchendo a boca de
porrada de ninguém que o senhor irá chegar lá, presidente! Esqueça o
irrefreável impulso para o desmando. Não leva a nada. Está fora do tempo e do
espaço. Em desuso e em absoluto repúdio mundo afora. Quer ser lembrado por essa
mancha na biografia? Quatro anos, quiçá oito, de mandato (e, sou franco, espero
que não, tamanho o estrago e negação da realidade que já vêm promovendo em tão
pouco tempo) não deveriam valer por uma vida inteira. O poder é passageiro,
caro mandatário. Efêmero, diriam os sábios. Mas o comportamento ensandecido de
quem prende e arrebenta para satisfazer os desejos absolutistas, não. Esse é
lembrado para além morte. Que triste legado ficará. Não diria sequer para os
seus filhos, que parecem guiar-se pela mesma cartilha – ao menos aqueles que
também alçaram cargos públicos. Brigões todos, senhores de si, destemidos com
as armas em punho, acreditam poder tudo. Vã ilusão. Precisam ser informados
pela Lei que não conseguem. Ao contrário. Terão de se submeter a ela. E ai dos
erros e desvios de cada um deles, pilhados em flagrante por uso indevido de
dinheiro público, que já vêm sendo desvendado em seguidas investigações.
Desculpe presidente, não quero de novo despertar o seu
ímpeto animalesco para encher minha boca de porrada. Mas são fatos. Fazer o
que? Apenas os relato aqui, como muitos já o fizeram. Por isso, digo: não
adianta nada querer “encher de porrada” a boca de todo mundo que lhe indaga
sobre eventuais falcatruas. É um rebotalho caricato e extemporâneo da ditadura
que não existe mais. Prepotência e impropérios não irão lhe livrar da
realidade. Ou será que, diante de um juiz, indagado pela mesma questão, o
senhor também tomará impulso para encher a boca dele de porrada? Se aceita o
conselho: melhor evitar. Não acabaria bem. Aliás, decerto, indo as vias de fato
nesse caso, as grades de uma prisão lhe receberiam de novo. Sei que já esteve
por lá devido a atos de rebeldia, quando ainda habitava os quartéis. Refresque
minha memória: Foi expulso de lá justamente por atitudes como essa, se não me
engano. Estou certo, presidente? Está nos anais da história. Ela também mente?
Falseia os fatos como é a sua especialidade? Outro dia uma universidade
paulista levantou que, nesses quase dois anos de gestão, o senhor chegou a
mentir, veicular desinformações nas redes sociais ou distorcer a realidade em
um ritmo de ao menos duas vezes ao dia. Que coisa feia, presidente! O senhor
acredita mesmo em fake news? Seu filho Carluxo com certeza. Afinal a Polícia
Federal o identificou como chefe de um “gabinete do ódio” de produção e
disseminação de notícias falsas contra adversários. Como pode uma coisa dessas
não é, presidente? O senhor não tem vergonha da baixaria para calar opositores?
Talvez não, acredito. Afinal, mácula mais notória e indiscutível o senhor já
teve na aqui citada carreira militar de capitão. Em tempo, até o título de
capitão reformado o senhor só recebeu justamente porque teve de sair de lá
escorraçado por mau comportamento. Confere, ex-tenente? Julgado duas vezes por
conduta irregular e atos que ofendem a honra pessoal e o decoro da classe, foi
considerado culpado unanimimente por três julgadores, todos oficiais de alta
patente. Deve ter sido constrangedor, tenho certeza. Logo os colegas de farda
lhe condenando. E os tempos de prisão disciplinar devem ter sido duros. Por
aqui, na vida civil, também não é bom abusar da destemperança. Na cadeira do
Planalto, o senhor deve satisfações e não tem o direito de distribuir porradas
a torto e a direita. Modere o tom mandatário. Ponha-se no seu lugar. Onde foi
parar a exigida liturgia do cargo? O senhor não a conhece? Não é para inglês
ver. Em tempo, recorrendo a outro dos epítetos que resolveu lançar contra
aqueles que lhe questionam sobre o óbvio, quero reiterar aqui que “bundão” é o
senhor que não explica, se acovarda diante de questões éticas, amarela e sai
esbravejando. Profissionais de comunicação não são “bundões” por que não
atendem aos seus anseios. “Bundão” é o senhor que incita a claque de fanáticos
a darem porrada em jornalistas. “Bundão” é o senhor, que agride
sistematicamente a legislação em vigor, com crimes de responsabilidade em
profusão. Já passou do tempo e da hora da cassação do seu mandato. Na letra da
lei, suas imprecações, em atos e palavras, deveriam ter lhe levado ao
impedimento. Que as autoridades dos demais poderes acordem o quanto antes e
tomem medidas contra a valentia descabida desse “bundão”. Que foi? Não gostou?
Vai encher a minha boca de porrada? Então deixe eu lhe dar o motivo maior para
tamanha ignorância: presidente, por que a sua esposa, Michelle, recebeu R$ 89
mil de Fabrício Queiroz?
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