O advogado Frederick Wassef é conhecido no Ministério
Público Federal e na Polícia Federal como o “anjo” da família Bolsonaro e dos
amigos do presidente envolvidos nas “rachadinhas” promovidas no gabinete do
senador Flávio quando ele era deputado estadual no Rio de Janeiro. “Anjo”, no
entanto, não protege os familiares e amigos dos Bolsonaro com a benevolência
angelical implícita no apelido. Ele está sendo muito bem pago para isso. O
advogado é acusado de se beneficiar de diversas operações financeiras que têm
engordado suas contas pessoais com milhões de reais, às custas do acesso
privilegiado aos membros do clã presidencial. Ele já representou na Justiça o
presidente e seus filhos, e foi o responsável por suspender as investigações
contra o 01 por crimes como peculato, lavagem de dinheiro e organização
criminosa.
Quando Wassef ajudou a esconder Fabrício Queiroz em sua casa
em Atibaia (SP), disse que o fez por questão humanitária, já que o ex-assessor
de Flávio estava com câncer e precisava de ajuda. Mas agora sabe-se que essa
relação foi além da preocupação com a saúde. Extratos de suas contas bancárias
mostram que Wassef era uma espécie de caixa dois da família. Ele pagou R$ 10
mil ao médico urologista Wladimir Alfer, que atendeu Queiroz no Hospital Albert
Einstein. Há dúvidas também se partiu de Flávio e do advogado o pagamento de R$
133,6 mil, em dinheiro vivo, para a operação no estômago que Queiroz fez no
local para se curar de um câncer.
E Wassef não pagou apenas médicos de Queiroz. Da conta de
seu escritório de advocacia saíram os R$ 276 mil pagos ao advogado que defendeu
Bolsonaro no STF quando ele foi acusado de apologia ao estupro e injúria contra
a deputada Maria do Rosário (PT-RS). O advogado Arnaldo Faivro Busato Filho
disse que defendeu o presidente de graça, mas nem Wassef e nem Bolsonaro
conseguem explicar a origem desse pagamento.
O prestígio de Wassef junto a Bolsonaro, inclusive, o faz
ter trânsito livre tanto nos palácios do governo como em solenidades
ministeriais. Na posse do atual ministro das Comunicações, Fábio Faria, em 17
de junho, o advogado foi uma das figuras proeminentes na solenidade. As suas
ligações com o governo são, a cada dia, mais comprometedoras. Suas suspeitas
ligações com a empresa Globalweb, fundada pela sua ex-mulher, Maria Cristina
Boner Leo, têm levado à constatação de que há a formação de um triângulo financeiro
envolvendo o casal e negócios duvidosos com o governo Bolsonaro. Além de Wassef
ter conseguido a suspensão de uma multa de R$ 27 milhões aplicada pelo Dataprev
à Globalweb, a empresa comandada por Cristina e sua filha Bruna Boner Leo
aumentou seus ganhos com o governo em R$ 53 milhões. Em razão dessas relações
espúrias, o advogado recebeu repasses de R$ 3,2 milhões, em 19 operações
realizadas pela ex-enteada Bruna Boner Leo, que hoje dirige a Globalweb porque
a mãe precisou se afastar do negócio em razão de inúmeros processos que
responde na Justiça.
Por que a JBS pagou R$ 9 milhões a Wassef?
Outro negócio operado por Wassef com a participação dos
Bolsonaro é a ajuda à JBS para que a empresa mantenha o acordo de delação
premiada junto à Procuradoria-Geral da República (PGR). O procurador Augusto
Aras deu prazo de 10 dias para que a JBS explique por que pagou R$ 9 milhões ao
advogado. A PGR pediu, ainda, que o MP-RJ envie detalhes das operações que
aparecem nos relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras
(Coaf) envolvendo Wassef com a empresa dos irmãos Batista.
Wassef tem também participação ativa na defesa de Flávio no
caso da “rachadinha”, embora depois da prisão de Queiroz tenha sido destituído
do caso. Mas, quando ainda era defensor do 01, em julho de 2019 o advogado
conseguiu paralisar a ação envolvendo seu cliente, investigado por ser o
principal beneficiário de R$ 1,2 milhão movimentados entre 2016 e 2017 por
Queiroz. Hoje, sabe-se que parte desse dinheiro pode ter ido parar na fantástica
loja de chocolates de Flávio no Rio. O MP constatou que a loja recebeu mais de
1.500 depósitos feitos em dinheiro vivo, sempre em valores fracionados de R$
2.000 ou R$ 3.000, para não atingir valores controlados pelo Coaf.
Segundo o MP, o senador realizou retiradas de valores da
loja logo depois dos depósitos em espécie. O senador sacou R$ 978.225 entre
março de 2015 e novembro de 2018, coincidindo com o período em que ocorreram os
depósitos, levando à suspeita de lavagem de dinheiro. Diferentemente do filme,
na vida real nenhum dos dois, nem o advogado e nem o senador, apresentam
características de mocinho. O enredo da história envolvendo a família Bolsonaro
mostra como o tráfico de influência no governo se mantém mesmo com a mudança
dos inquilinos do Planalto. Flávio e Wassef são dois lados da mesma moeda.
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