Há 203 dias, Jair
Bolsonaro afirmou guardar provas de fraude na eleição de 2018. O presidente
disse que tinha em suas mãos evidências de que deveria ter vencido a disputa no
primeiro turno e anunciou que apresentaria esse material “brevemente”. É claro
que nada apareceu, mas ele conseguiu o que queria.
Bolsonaro trabalha,
no longo prazo, para dinamitar a credibilidade do sistema de votação no país. A
ideia é cultivar dúvidas entre seus apoiadores, reforçar a imagem de um
ambiente político manipulado e preparar terreno para contestar derrotas que
sofre dentro das regras do jogo.
Ele deu uma pista
desse caminho ainda na campanha presidencial. A dias do primeiro turno,
Bolsonaro levantou suspeitas de fraude sem comprovação e disse que não
aceitaria um resultado diferente de sua vitória nas urnas. “Isso é um ponto de
vista fechado”, declarou.
Esse golpismo
pré-datado se tornou marca de certos políticos populistas. Na corrida
presidencial de 2016, Donald Trump falava de uma “fraude eleitoral em larga
escala” para favorecer sua rival, Hillary Clinton. O republicano venceu a disputa.
A semente, porém, estava plantada.
Trump governou como
vítima das instituições democráticas. Agora, atrás de Joe Biden nas pesquisas,
ele estendeu o tapetão: questionou a lisura do processo eleitoral e disse que,
se as urnas não derem a ele um novo mandato, levará o resultado à Suprema Corte
—onde os juízes conservadores são maioria.
Sem provas
concretas de fraude em quantidade suficiente para mudar o resultado da eleição,
Trump faz uma ameaça explícita de golpe de Estado. Ninguém deve ficar surpreso se
Bolsonaro seguir o mesmo caminho em 2022, depois de alguns anos de experiência
no ramo.
No tapetão
populista, a vontade popular não conta, e nem mesmo é preciso haver fraude de
verdade. Basta fragilizar o principal instrumento da democracia para agitar eleitores
e milícias dispostas a apoiar uma manobra fora da lei. A democracia, afinal, é
um mero detalhe.
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