Entre as 33
legendas registradas no Tribunal Superior Eleitoral, nenhuma está mais à
esquerda que o PCO. Fundado em 1995, o Partido da Causa Operária defende um
levante dos trabalhadores contra a burguesia. Seu programa prega a estatização
do sistema financeiro. O objetivo é eliminar os bancos, identificados com a
“agiotagem dos capitalistas”.
A sigla lançou um
bom slogan (“Quem bate cartão não vota em patrão”), mas nunca conseguiu
empolgar as massas. Seu eterno presidente, Rui Costa Pimenta, já se candidatou
três vezes ao Planalto. Em todas as tentativas, terminou em último lugar, com
menos de 0,1% dos votos.
Apesar da retórica
anticomunista, a família Bolsonaro tem algo em comum com o PCO. A exemplo do
partido nanico, o clã odeia os bancos. O sentimento se materializa no apego ao
dinheiro vivo, que une filhos e ex-mulheres do presidente.
Aos 20 anos, o
vereador Carlos Bolsonaro usou “moeda corrente do país, contada e achada certa”
para comprar seu primeiro imóvel, na Tijuca. O negócio foi revelado na
quarta-feira pelo jornal “O Estado de S.Paulo”. Candidato à reeleição, o Zero
Dois não quis se manifestar. Ele concorre ao sexto mandato na Gaiola de Ouro,
como é conhecida a Câmara Municipal do Rio.
Também na quarta, O
GLOBO noticiou que Eduardo Bolsonaro usou dinheiro em espécie na compra de dois
apartamentos na Zona Sul. A última aquisição foi feita em 2016, quando ele já
era deputado federal. O Zero Três não quis explicar a preferência pelos
pagamentos em cash.
O senador Flávio
Bolsonaro supera os irmãos na modalidade. Em 2010, ele usou dinheiro vivo para
comprar 12 salas comerciais na Barra. O negócio foi relatado ao Ministério
Público pelas construtoras Cyrela e Brookfield. Em depoimento, o Zero Um
confirmou a história. Ele disse que parte da quantia teria sido emprestada pelo
pai, o presidente Jair Bolsonaro.
Mãe do trio, a
ex-vereadora Rogéria Bolsonaro também usou moeda corrente para comprar um
apartamento quando era casada com o capitão. A segunda mulher da presidente,
Ana Cristina Valle, seguiu a mesma receita. Comprou duas casas, um apartamento
e dois terrenos “em moeda corrente”, segundo revelou a revista “Época”.
No caso do PCO, a
aversão aos bancos é ideológica. O partido sempre defendeu uma “aliança
operário-camponesa” em nome da “luta contra a opressão do capital”. No caso dos
Bolsonaro, o MP tem outro palpite. A suspeita é que as transações em espécie
tenham servido para ocultar a origem dos recursos.
Comprar imóveis em
cash não é crime, mas costuma chamar a atenção do MP e da Receita. A prática é
vista como indício de sonegação e lavagem de dinheiro. Sem passar pelos bancos,
os valores não deixam rastros. Podem ser transportados em malas, cuecas ou
caixas de sapato.
Os promotores
suspeitam que Flávio tenha usado o esquema da rachadinha para engordar o
patrimônio. O senador é investigado há dois anos, mas ainda não encontrou uma
versão convincente para explicar sua alergia às operações bancárias.
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