“Poucas ideias são
tão ruins que não podem ser pioradas. Infelizmente, o sistema tributário
brasileiro não é exceção à regra… Uma prova disso é a constante ameaça do
retorno da famosa … CPMF”, escreveu Adolfo Sachsida em um livro de 2017.
Sachsida é ora secretário de Política Econômica do Ministério da Economia de
Paulo Guedes.
A esse respeito,
muita gente está de acordo com o secretário, este jornalista inclusive. Guedes
quer substituir um imposto ruim e decadente, a contribuição patronal para o
INSS, por um ainda pior, a CPMF ou equivalente. Se conseguir, vai aumentar a
confusão, as distorções e várias iniquidades da tributação no Brasil.
Um modo de acabar
com o imposto sobre folha de salários é tributar mais a renda, de preferência a
dos mais ricos (ou o consumo, alternativa pior). Tributar mais os rendimentos
maiores é também um modo de pegar os lucros da “economia digital”, que têm
escapado dos fiscos do mundo inteiro.
Guedes não quer
bulir com o IR. Pretende comer a renda de modo insidioso, com uma CPMF, imposto
menos visível e que trata ricos e pobres da mesma maneira.
A ideia do ministro
é arrumar R$ 120 bilhões a fim de reduzir o que as empresas pagam para o INSS.
Acabaria o imposto sobre remunerações de um salário mínimo ou menos; a
contribuição sobre salários maiores diminuiria. Uma conta de guardanapo indica
que, de fato, esse dinheiro seria bastante para reduzir a alíquota do INSS de
20% para uns 11% (para salários maiores que um mínimo), tudo mais constante.
Guedes acha que
arrecadaria esses R$ 120 bilhões com uma alíquota de 0,4% para sua CPMF
misteriosa. Quando a CPMF era de 0,38% (de 2002 a 2007), a receita era
regularmente 1,35% do PIB, atualmente uns R$ 94 bilhões. Mas passemos, pois
ninguém sabe o que é essa CPMF do ministro e a economia mudou em 13 anos.
Uma CPMF ou coisa
que o valha vai pesar mais sobre indústria e agricultura, menos sobre serviços.
Impostos sobre a folha de salários, como a contribuição patronal para o INSS,
pesam mais, claro, sobre setores que gastam relativamente mais com mão de obra
e menos com capital.
Mas ao fim e ao
cabo, impostos sobre transações financeiras são selvagens, em nada relacionados
a um critério econômico razoável. Uma cadeia de produção longa e movimentação financeira
relativamente grande levarão uma empresa a “pagar” mais (na verdade, a recolher
mais imposto, repassando a conta para o cliente).
A CPMF tende a
aumentar a iniquidade social e econômica da tributação. Um grande princípio da
reforma tributária seria justamente uniformizar o quanto possível os impostos
que cada setor ou empresa têm de recolher. Outro motivo da reforma é acabar com
a cumulatividade (o imposto em cascata, que fica mais pesado quanto mais
“fases” a produção de um bem ou serviço envolver). A CPMF é cumulativa.
Além do mais, uma
CPMF de 0,4% é uma enormidade em ambiente de taxas de juros baixas. Logo, vai
criar tumulto e custo também no mercado financeiro.
A redução dos
encargos sobre a folha vai ajudar a criar empregos? Não há evidências. Talvez
facilite formalização e contratações quando e se a economia estiver crescendo.
Impostos menores sobre o emprego podem ser um coadjuvante da melhoria do
mercado de trabalho, mas não o motivo.
Deputados
relevantes ainda dizem que a CPMF não passa ou que pode atrasar a reforma
tributária. Que o país esteja discutindo tal coisa é outro sucesso da
selvageria iníqua e ignara que move o governo de Jair Bolsonaro.
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