Avesso a tomar
decisões que contrariem grupos de interesse, inebriado com sua popularidade e
obcecado pela reeleição, o presidente Jair
Bolsonaro conduz o país no rumo da instabilidade econômica, que poderá
resultar em inflação crescente e mais recessão.
A proposta de
financiar um novo programa social batizado de Renda
Cidadã com recursos reservados para o pagamento de precatórios
judiciais e verbas da educação expõe a desfaçatez de um governo incapaz de
lidar com a situação.
Deixar de honrar
precatórios, que representam dívidas líquidas e certas, é dar calote em
aposentados, servidores públicos e outros na fila de credores do Tesouro. Adiar
sua quitação, para aplicar o dinheiro em outros fins, é pedalar a despesa e
aumentar a dívida pública.
Anunciada com
fanfarra por Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, como resultado
de um acordo com os líderes
partidários no Congresso, a proposta tresloucada foi recebida com
enorme desconfiança
em toda parte.
O efeito imediato
foi reduzir ainda mais a credibilidade
da equipe liderada por Guedes, que se mostra inepto quando tenta
persuadir o presidente a fazer escolhas difíceis e agora parece inclinado a
contornar as resistências com malabarismo.
No mercado
financeiro, as taxas de juros de longo prazo dispararam nas horas que se
seguiram ao anúncio, indicando que os investidores cobrarão mais caro para
financiar o governo se ele continuar gastando sem controle e se endividando.
Mantido o teto
constitucional dos gastos públicos, não há meio de custear a ampliação do Bolsa
Família como o presidente deseja sem abater outras despesas. Bolsonaro não quer
mexer no teto e rejeitou sugestão anterior da equipe econômica, que incluía
corte de benefícios sociais e congelamento de pensões e aposentadorias.
O presidente poderia
abrir espaço no Orçamento para novos gastos se demonstrasse empenho para
acelerar reformas em discussão no Congresso, em especial a administrativa. Mas
falta a Bolsonaro a convicção necessária para fazê-lo.
O Brasil já ostenta
o maior passivo do mundo entre os países emergentes, com uma dívida pública que
deve alcançar 95% do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano. A desconfiança
dos investidores torna sua gestão mais
difícil e custosa.
A desvalorização do
real frente ao dólar pode fazer os preços voltarem a subir, obrigando o Banco
Central a aumentar os juros para evitar que a inflação estoure a meta oficial.
Assim, o
descompromisso do governo com o equilíbrio das contas
públicas aproxima o país do risco de insolvência financeira e ameaça a
retomada do crescimento econômico nos próximos anos, com efeitos dramáticos
para todos.
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