Celso de Mello chegou ao Supremo Tribunal Federal em agosto
de 1989, quando a Constituição ainda nem completara um ano de promulgada. Seus
31 anos na corte se entrelaçam com dramas e tensões da nossa história
contemporânea que, em anos mais recentes, têm levado a um desgastante confronto
do tribunal com os outros dois Poderes.
O julgamento do mensalão quebrou a redoma que protegia o STF
da refrega político-partidária e acentuou disputas entre os ministros,
agravadas sobremaneira pela Lava Jato. O excelente livro “Os Onze”, de Felipe
Recondo e Luiz Weber, mostra que, nestes tempos tumultuados, Celso de Mello
atuou como vetor de alguma acomodação e equilíbrio sempre que procurado por
pares menos experimentados em crises, como o primeiro relator da Lava Jato,
Teori Zavascki, já morto.
Desde a ascensão do bolsonarismo, o decano também tem sido
voz quase solitária na corte, na sua firmeza e altivez, a condenar as ameaças à
Constituição, à democracia e ao Estado de Direito, repudiando em alto e bom som
“intervenções castrenses” [ militares ] e práticas típicas do “pretorianismo”.
Quando os ataques ao STF pareciam estar em ponto de ebulição, no primeiro
semestre deste ano, Mello, em mensagem privada (vazada à imprensa), também
advertiu para os riscos de “destruição da ordem democrática”, em processo
semelhante ao que aconteceu na Alemanha nazista.
Conforme destacado no livro, Celso de Mello tem fama de
ermitão. Não frequenta políticos, não vai a eventos sociais, não aceita
convites para palestras, não visita o Palácio do Planalto. Envergando a toga, o
ministro construiu reputação de credibilidade e independência, reforçada pelo
decoro público exemplar e pela aversão aos holofotes.
Num Supremo conflagrado por interesses e conveniências nem
sempre claros para a sociedade, é um exemplo de compostura que deveria ser
seguido por todos os seus pares para o bem das instituições e da democracia no
país.
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