Ao contrário do que apregoava até pouco tempo atrás, o
presidente Jair Bolsonaro decidiu entrar na campanha eleitoral deste ano e
declarou apoio a Celso Russomanno (Republicanos) na disputa pela Prefeitura da
capital paulista. “São Paulo precisa de um prefeito com o apoio do presidente
da República”, “Bolsonaro pegou no meu braço e disse ‘Celso, cuida de São
Paulo’”, disse um enternecido Russomanno em seu programa de estreia no horário
eleitoral gratuito no rádio e na TV.
Entretanto, desde que decidiu associar sua imagem à do
presidente da República, Celso Russomanno viu despencar em 7% suas intenções de
voto. O candidato do Republicanos perdeu a liderança da corrida eleitoral para
o atual prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), candidato à reeleição,
repetindo até aqui a trajetória de suas campanhas para o Executivo municipal em
2012 e 2016. De acordo com a pesquisa Datafolha divulgada no dia 22 passado,
Russomanno caiu de 27% para 20% das intenções de voto e Covas subiu de 21% para
23%. Ambos estão empatados tecnicamente, dentro da margem de erro da pesquisa.
Bolsonaro também apoia a reeleição do prefeito do Rio de
Janeiro, Marcelo Crivella. Como em São Paulo, o escolhido pelo presidente não
vai bem nas pesquisas. O ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) tem 28% das intenções
de voto, mais do que o dobro das de Crivella (13%).
Os resultados se coadunam com outra pesquisa, também
realizada pelo Datafolha, que revelou que a associação com Jair Bolsonaro e com
o ex-presidente Lula da Silva é fator de aumento da rejeição aos candidatos por
eles apoiados, e não de atração. O instituto de pesquisa ouviu 1.092 eleitores
paulistanos entre os dias 5 e 6 de outubro.
Quando instados a avaliar o apoio político dado pelo
presidente Jair Bolsonaro, 63% dos entrevistados pelo Datafolha responderam que
“não votariam de jeito nenhum em um candidato apoiado por ele”. Para 16% dos
respondentes, o apoio de Bolsonaro os “levaria a escolher esse candidato (apoiado)
com certeza”. E para 18%, o apoio conferido pelo presidente da República
“talvez” os faça votar no candidato apoiado por ele. Dois por cento dos
entrevistados deram outras respostas e 1% não soube responder.
Já a rejeição a um candidato apoiado por Lula da Silva na
cidade de São Paulo é menor do que a apurada em relação a Jair Bolsonaro, mas
ainda assim é bastante significativa: 54% dos entrevistados pelo Datafolha
disseram que “não votariam de jeito nenhum” em um candidato apoiado pelo chefão
petista. Já para 21% dos respondentes, o apoio de Lula da Silva é decisivo para
a escolha de seu candidato a prefeito. E para outros 23%, a chancela do ex-presidente
“talvez” os faça votar no ungido por ele. Um por cento deu outras respostas e
1% não soube responder. Não surpreende, portanto, por que Jilmar Tatto (PT)
ocupe hoje uma posição inglória, jamais ocupada por outro candidato petista à
Prefeitura de São Paulo. Tatto tem 4% das intenções de voto, empatado
tecnicamente com Arthur do Val (Patriota), o chamado “Mamãe Falei”.
O nível de rejeição a um candidato é fator que tem enorme
peso em uma eventual disputa em segundo turno. A alta rejeição a Russomanno
provocada pelo apoio de Jair Bolsonaro pode beneficiar o candidato tucano caso
sejam refletidas nas urnas as preferências que hoje são capturadas pelos
institutos de pesquisa. A bem da verdade, Covas é apoiado pelo governador João
Doria, que, segundo o Datafolha, também provoca mais rejeição (60%) do que
atração (36%). Entretanto, dois fatores pesam a favor do atual prefeito para
angariar votos além dos advindos diretamente em decorrência do apoio do
governador João Doria: Bruno Covas conseguiu arregimentar a maior coligação de
partidos em torno de sua reeleição e tem a aprovação da maioria dos paulistanos
para sua atuação durante a pandemia de covid-19, de acordo com uma pesquisa do
Ibope realizada em setembro.
O resultado da eleição municipal é incerto, evidentemente. O
que parece certo é o cansaço dos paulistanos com uma polarização política
estéril.
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