Por ignorância,
estupidez ou conveniência, as declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre a
Amazônia foram de um extremo a outro nesses quase dois anos de (des)governo.
Ainda no primeiro semestre do ano passado, ele disse que a Amazônia estava
oquei e chamou de feia a mulher do presidente francês, preocupado com a
destruição da maior floresta do planeta.
Em meados deste
ano, ante o aumento do número de focos de incêndio por lá, Bolsonaro negou que
a Amazônia pegasse fogo porque o clima, ali, é úmido. O que pegava fogo,
segundo ele, era a periferia. Não disse que o fogo ateado na periferia deve-se
à ação humana criminosa e ao desinteresse do Estado em detê-la. A omissão do
Estado só fez crescer desde que ele tomou posse.
Na última
quinta-feira, durante cerimônia de formatura de alunos do Instituto Rio Branco
no Ministério das Relações Exteriores, Bolsonaro deu pelo não dito até então
para afirmar que não há “nada queimado” na Amazônia, sequer “um hectare de
selva devastada”. Sim, foi isso mesmo que você leu: nada queima na Amazônia e
nenhum hectare de selva foi devastado.
Aproveitou a
ocasião para anunciar que, em breve, vai convidar diplomas estrangeiros para um
sobrevoo de uma hora e meia de parte da floresta entre Manaus e Boa Vista.
Assim eles poderão constatar que a Amazônia não arde. Na verdade, o sucesso da
viagem dependerá da rota traçada e da perícia do piloto para passar longe dos
trechos em chama e desmatados.
Ainda faltam dois
meses para 2020 acabar, mas na Amazônia o número de focos ativos de calor já
ultrapassou o total registrado nos 12 meses de 2019, informa o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais. O bioma Amazônia registrou este ano 89.734
focos. Em todo o ano passado, 89.176. Até anteontem, o número já era quase o
dobro do visto no mês inteiro de outubro do ano passado.
O que Bolsonaro diz
não se escreve ou não deveria ser escrito. Mas o pior é que se escreve, quando
nada porque não é normal que um presidente da República minta tanto ao seu país
e ao mundo.
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