Os grandes números impressionam, a descrição dos crimes
encontrados no solo da Amazônia, também. A Operação Verde Brasil 2 aplicou de
11 maio até esta semana multas no valor total de R$ 1,696 bilhão. O Exército em
solo e a Marinha nos rios apreenderam carregamentos de madeira suficientes para
encher duas mil carretas. E isso foi até a última quarta-feira. Em apenas uma
operação contra o garimpo ilegal foram encontrados 45 quilos de ouro. Ao todo
nesses meses foram apreendidas oito mil toneladas de minerais ilegalmente
extraídos, a maior parte manganês.
Os 45 quilos de ouro têm o valor de R$ 15 milhões. Foram
encontrados dentro da Reserva Biológica de Maicuru, entre os municípios de
Santarém e Itaituba, numa operação nos dias 9 e 13 de outubro. O local é definido
pelos militares como “totalmente inóspito e de difícil acesso”. Foram por ar
com a Força Aérea. Junto com os militares, a Polícia Federal e o Ibama. Lá,
destruíram também 15 motores estacionários de garimpo.
Eles não saem assim às cegas. Em Brasília um grupo reúne
todos os órgãos envolvidos com o tema. Um deles é o Inpe. Com imagens de
satélite escolhe-se onde agir. Em videoconferências falam com os comandos
militares na Amazônia. No resto é patrulha mesmo por terra, rio e ar.
Na manhã de 2 de setembro, as tropas das Forças Armadas
chegaram numa fazenda que fica a leste da Terra Indígena Yanomami, ao norte da
Estação Ecológica Niquiá, no município de Caracaraí. Estavam juntos técnicos do
ICMBio, policiais militares de Roraima e fiscais ambientais do estado. Era uma
atividade de combate ao garimpo ilegal. Eles apreenderam quatro aviões, mas
havia outras aeronaves sendo consertadas e uma sendo montada. Havia uma pista
de pouso e um hangar com espaço para cinco aviões.
As distâncias são enormes e só podem ser vencidas com o que
eles chamam de “uma logística forte”, que apenas as Forças Armadas têm. Os
militares dizem que precisam da cooperação dos órgãos ambientais. Na verdade,
eles definem a Verde Brasil 2 como uma operação interagências. E a lista inclui,
além das três forças, ICMBio e Ibama, a Funai, o Serviço Florestal Brasileiro,
a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, o Incra, órgãos ambientais
estaduais e polícias locais.
No dia 25 de junho, um navio patrulha da Marinha encontrou
carregamento de madeira na foz do Rio Tocantins, no Pará. Havia três
empurradores e quatro balsas levando ao todo mil toras de madeira ilegal. A
carga era tanta que punha em risco a navegação. Dois dias depois aportaram em
Belém e o material foi entregue às autoridades ambientais do Pará.
— Quando a gente não consegue evitar o desmatamento, a gente
apreende o resultado do crime para dar um prejuízo ao malfeitor e desestimular
a continuidade do crime — disse um militar.
Ao todo, foram 765 os equipamentos inutilizados ou destruídos
este ano. São veículos, motores de garimpo, balsas, tratores, escavadeiras e
máquinas agrícolas. Isso, além das mais de mil embarcações apreendidas e 390
dragas. Em Humaitá, pegaram de uma só vez 64 dragas.
— Os garimpos são enormes, muitas vezes em áreas protegidas.
Os servidores do Ibama e do ICMBio são poucos. Precisam ser levados, em geral
pela Força Aérea. A multa é aplicada pelo Ibama e pelo ICMBio. O papel das
Forças Armadas principal é logística, de levar esse fiscal para lugares que ele
não conseguiria chegar, e ao mesmo tempo dar proteção a ele. Num garimpo enorme
desses, o fiscal vai sozinho? É um perigo. É pouquinha gente (das agências
ambientais) para umas coisas enormes e interesses muito grandes por trás —
explica um oficial.
A Operação Verde Brasil 2 está prevista para terminar em 6
de novembro. Terão sido seis meses. As multas aplicadas foram muito maiores do
que no ano passado.
— Até hoje foram combatidos 7.500 focos de incêndio e foram
realizadas 44.900 inspeções navais e terrestres, vistorias e revistas. É
bastante. É o suficiente? Não. Isso tudo é emergencial. A gente está com um
problema grande e está aqui combatendo os efeitos para tentar reduzir. É
necessário ter uma política de empoderamento desses órgãos ambientais — explicou
o oficial.
O discurso do governo confunde, mas a ação do Estado diante
da grandeza da Amazônia só dá certo quando há cooperação entre seus vários
braços e os objetivos são permanentes.
Com Álvaro Gribel
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