Quaisquer que sejam suas orientações ideológicas, governos
autoritários apresentam como traço comum o esforço para sufocar a livre
circulação de ideias e a atuação da imprensa. Essa regra ganhou atualidade nos
últimos dias, quando medidas do gênero foram adotadas por regimes tão distintos
como os da Belarus e da Nicarágua.
Na primeira, o ditador Aleksandr Lukachenko, há 26 anos no
poder, investiu contra
o mais importante site noticioso do país, o Tub.by, cassando-lhe o
status de mídia.
O ataque a um dos poucos veículos locais que ainda
funcionavam normalmente representa um passo largo na mais recente escalada
despótica contra a imprensa, que já resultou no bloqueio de ao menos 70 sites
informativos.
Embora o Tub.by ainda permaneça no ar, seus repórteres
deixaram de ser considerados jornalistas, o que os torna mais suscetíveis a
detenções durante a cobertura dos protestos que tomaram o país há quase dois
meses —após a vitória de Lukachenko em uma eleição eivada por fraudes.
O expediente vem sendo utilizado de maneira sistemática pelo
governo. Nesse período, cerca de 350 profissionais de imprensa já foram detidos
durante o exercício da função, e ao menos 15 permaneciam presos até a semana
passada.
Diverso foi o caminho
adotado pela Nicarágua do ditador Daniel Ortega, onde o ataque à
liberdade de expressão se deu com novas leis.
Recente diploma pune com multas e até quatro anos de prisão
aqueles que, por meio das tecnologias de informação e comunicação, publicarem
ou difundirem informações falsas ou deturpadas “que causem alarme, medo ou
ansiedade na população”.
Ainda pode sofrer sanções, de acordo com o texto, quem
prejudicar a honra, o prestígio ou a reputação de uma pessoa ou de sua família,
além daquele que incitar a violência ou puser em perigo a estabilidade
econômica, a ordem, a saúde e a segurança nacional.
Utilizando uma tipificação penal vaga, com conceitos amplos,
como “honra” e “medo”, ou manipuláveis, como “notícias falsas”, a lei abre
margem para toda sorte de abusos por parte do Estado e facilita a
criminalização de críticos.
Com Ortega buscando em 2021 a terceira reeleição e Aleksandr
Lukashenko tentando recuperar o poderio abalado em Belarus, as estratégias dos
dois déspotas apontam para o mesmo fim —o de censurar para se perpetuarem no
poder.
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