Não convém esperar muito de Kassio Nunes Marques, escolhido
para substituir o decano Celso de Mello no Supremo Tribunal Federal. O
desembargador foi apadrinhado por Flávio Bolsonaro e pelos próceres do centrão.
Antes de passar pela sabatina no Senado, submeteu-se a um beija-mão na casa do
ministro Gilmar Mendes.
O presidente Jair Bolsonaro fez questão de deixar claro:
Marques deve a indicação à amizade, não ao saber jurídico. “Ele já tomou muita
tubaína comigo, tá certo?”, disse, na quinta-feira. A frase não lustra a
biografia do futuro ministro. Apenas sugere que o capitão conta com sua
obediência no Supremo.
Até aqui, o maior trunfo do desembargador são os
descontentes. Sua escolha irritou os seguidores mais radicais de Bolsonaro.
Gente que despreza a democracia e esperava ver outro fanático no tribunal.
Silas Malafaia, o pastor boquirroto, considerou a indicação
um “absurdo vergonhoso”. “É uma decepção geral”, resumiu. Sara Inverno, a
extremista de tornozeleira, sentiu-se abandonada pelo Mito. “Não reconheço
Bolsonaro. Não sei mais quem ele é”, dramatizou.
Olavo de Carvalho, o astrólogo da Virgínia, incitou sua
tropa contra “o tal Kassio”. “Não tenho culpa de ser brasileiro, mas da
vergonha não estou conseguindo escapar”, tuitou. Outros aliados usaram as redes
do presidente para protestar.
As respostas mostraram que Bolsonaro deseja ter um
pau-mandado no Supremo. Ele chegou a antecipar o voto de Marques sobre o
direito das mulheres a interromper a gravidez. “Kassio é contra o aborto
(votará contra a ADPF 442 caso seja pautada)”, escreveu. “Está 100% alinhado
comigo”, acrescentou.
Os bolsonaristas de raiz não são os únicos insatisfeitos com
o ministro tubaína. Sua indicação também decepcionou personagens que rastejavam
pela vaga no Supremo. É o caso do procurador Augusto Aras, que se comporta como
advogado do governo, e do ministro João Otávio de Noronha, que soltou Fabrício
Queiroz. Agora os dois terão que engolir a frustração em silêncio.
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