Por Alvaro Gribel (interino)
O governo adiou mais uma vez o anúncio do Renda Cidadã.
Segundo o relator Márcio Bittar, ficará para a semana que vem, mas há quem diga
que Bolsonaro prefere decidir somente após as eleições municipais, no final de
novembro. Sem dar uma solução para o financiamento do novo Bolsa Família, o
clima continuará de volatilidade no mercado, com pressão sobre o câmbio e
aumento dos juros da dívida. Nem o encontro de Paulo Guedes com Rodrigo Maia
animou o mercado. A bolsa abriu em ligeira alta mas, nas palavras de um
investidor, “ninguém acredita mais em historinhas”. É preciso colocar os
números na planilha e provar que não haverá estouro do teto de gastos.
Quem participou do jantar com Guedes e Maia na noite de
segunda-feira disse que o clima no encontro foi de franqueza e de que “não
havia tempo a perder” na agenda de reformas. Mas faltou combinar com o
presidente Bolsonaro, que está mais preocupado com as eleições e não quer
correr o risco de perder apoio ao cortar benefícios de outros programas
sociais. Por ora, o auxílio emergencial é suficiente para garantir sua
popularidade, especialmente no Nordeste, até o dia da votação, e na visão de
Bolsonaro a crise fiscal pode esperar.
No Congresso, as eleições para as presidências da Câmara e
do Senado já afetam a agenda. Ontem, o centrão — com a ajuda da oposição
—conseguiu obstruir a pauta. Os deputados Rodrigo Maia e Arthur Lira brigam
pelo comando da Comissão Mista de Orçamento (CMO), no que está sendo visto como
uma disputa prévia da sucessão na Câmara que ocorrerá em fevereiro.
O fim do auxílio emergencial pode provocar uma disparada do
desemprego na virada do ano e afetar duramente o consumo, que tem sustentado a
economia. Assim como o mercado, empresários aguardam pela decisão do novo
programa social para calibrar os planos de contrações e os investimentos. Sem
conseguir tomar decisões e arbitrar conflitos, o governo vai empurrando os
problemas com a barriga. Como sabem os liberais, um dia a conta sempre chega.
Voz sem comando
Na entrevista coletiva após a reunião com Maia, Paulo Guedes
voltou a falar por três vezes em Renda Brasil, o nome proibido por Bolsonaro.
Vale lembrar o que disse o presidente no dia 15 de setembro: “Está proibido
falar a palavra Renda Brasil. Vamos continua com o Bolsa Família e ponto
final”.
Dois tipos de desculpas
Também chamou atenção na entrevista a forma como Maia e
Guedes pediram desculpas um ao outro. Enquanto o presidente da Câmara olhou nos
olhos de Guedes e lamentou ter sido “indelicado e grosseiro”, o ministro
colocou tudo na condicional. “Caso eu tenha ofendido o presidente Rodrigo Maia,
ou qualquer político, inadvertidamente, eu peço desculpas também, não há
problemas”, disse Guedes, quando Maia já tinha deixado o local.
Tiro no pé
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, acha que
Bolsonaro pode dar um tiro no pé ao deixar para depois das eleições a decisão
sobre o novo programa social. Ele entende que isso pode ser visto como
estelionato eleitoral se houver cortes em outros programas para financiar o
Renda Cidadã. “A oposição pode colar a imagem nele de que fez mudança em
política social só depois da eleição. Foi assim no plano cruzado em 1986,
quando os governadores do PMDB ganharam, e o cruzado começou a desmontar em
seguida. Pegou muito mal e foi o início do processo de desmonte do partido”,
lembrou. Sérgio também acha que o calendário ficará apertado em dezembro,
pressionado pelas férias legislativas, em janeiro, a votação do Orçamento, e a
proximidade das eleições para a presidência das duas Casas. “Pode ser que acabe
tendo votação para postergar a decisão sobre o auxílio. Entra o ano que vem
recebendo auxílio e depois tem decisão mais permanente sobre o Renda Cidadã”,
afirmou.
Trump derruba as bolsas
O risco Trump voltou a derrubar as bolsas. Após fala do
presidente americano contra o pacote de estímulo do partido democrata, os
principais índices mundiais foram ao vermelho e o dólar subiu. Os investidores
que começaram o dia enxergando um céu de brigadeiro, após a saída do presidente
do hospital, viram a volatilidade disparar depois do tuíte do candidato
republicano.
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