A polarização entre o PT e Bolsonaro deixou os eleitores
ideologicamente de centro órfãos de alternativas nas eleições de 2018. Esses
dois extremos se retroalimentaram, não deixando espaço para o fortalecimento de
candidaturas competitivas como alternativa a esses dois polos extremados.
Mesmo ainda muito distante das eleições, já é possível
identificar alguns sinais de que a polarização PT vs. Bolsonaro tende a se
enfraquecer.
Por um lado, já existem claras evidências de que uma parcela
não trivial de eleitores que votaram em Bolsonaro em 2018, especialmente para
evitar a vitória do PT, não estaria mais disposta a reeleger o Presidente.
Esses eleitores de perfil pragmático, especialmente residentes no Sudeste, com
alta escolaridade e renda se frustraram fortemente com o governo Bolsonaro
diante da má gerência da pandemia da COVID-19.
Resta a Bolsonaro o apoio fiel do seu núcleo ideológico mais
conservador que se nutre de vínculos indentitários com a sua liderança
carismática. Além do mais, um novo mercado de eleitores se abriu para o
presidente a partir do auxílio emergencial da pandemia. Mas esse auxílio já tem
data para acabar.
Para que essa nova conexão eleitoral se fidelize, será
necessário que o governo consiga novas fontes de recurso, seja por via de
remanejamento orçamentário de outras políticas sociais ou aumento da carga
tributária. Qualquer uma dessas alternativas encontrará fortes resistências na
sociedade e no legislativo.
Pelo lado da esquerda, também existe muita frustração. O PT
ainda patina na agenda falida do “Lula livre” e não consegue ser alternativa de
oposição crível ao governo. O partido talvez seja, mais uma vez, o grande
derrotado das eleições municipais deste ano. Corre o risco de perder o
protagonismo de ser o núcleo do qual os outros partidos de esquerda gravitavam.
É justamente neste mercado eleitoral, nutrido de frustrações
e decepções tanto com o governo Bolsonaro como com o petismo, que terá o
potencial de emergir um candidato competitivo de centro como alternativa à
polarização em 2022.
*Cientista político e professor titular da FGV- Ebape
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