Mergulhado numa crise econômica e sanitária, o Rio de
Janeiro completa hoje dois meses sem governador. Em 28 de agosto, o Superior
Tribunal de Justiça afastou Wilson Witzel. Eleito com discurso moralista, ele
foi acusado de desviar verbas da Saúde na pandemia.
O ex-juiz não tem do que reclamar. Enquanto ex-comparsas
mofam em Bangu, ele desfruta um doce exílio no Palácio Laranjeiras. Divide o
ócio com a mulher, três filhos e o gato Elvis, que se estica livremente sobre o
mobiliário Luís XV.
Embora tenha sido alijado do poder, o governador continua a
usufruir suas mordomias. Um garçom fica de prontidão para manter seu copo
cheio. Ele alterna os goles de uísque com baforadas de charuto cubano.
No início de outubro, uma ação popular pediu que o Churchill
de chanchada fosse removido do palácio. O juiz Marcello Leite, da 9ª Vara de
Fazenda Pública, decidiu que ainda não era hora de despejá-lo. Até que o
impeachment seja sacramentado, ele poderá permanecer na residência oficial.
O processo deve ter novidades amanhã. O deputado Waldeck
Carneiro promete entregar seu relatório ao tribunal misto que examina as
denúncias. O texto tende a ser aprovado na semana que vem, mas a novela da
cassação pode se estender até o fim de janeiro. Até lá, o estado será governado
interinamente pelo vice Cláudio Castro, também investigado sob suspeita de
receber propina. A exemplo do colega de chapa, ele nega todas as acusações.
A derrocada não abalou a megalomania de Witzel. Em
entrevista à revista “Veja”, ele informou que continua a mirar a Presidência.
Atribuiu o desejo a um “sentimento patriótico”. “Minha missão na política está
apenas começando”, disse.
Denunciado por corrupção, lavagem de dinheiro e organização
criminosa, o ex-juiz já ensaia fugir do país para não ser preso. “Se perceber
que há perseguição política e cooptação das instituições contra mim e a minha
família, pretendo pedir asilo político no Canadá”, declarou. Depois de sonhar
com o Planalto, Witzel pode acabar na lista da Interpol.
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