Depois de um primeiro encontro caótico, constrangedor e, ao
final, pouco inteligível, o segundo
e último debate presidencial entre Donald Trump e Joe Biden teve ao
menos o mérito de permitir ao público americano acompanhar um confronto de
ideias mais civilizado.
Não que o embate tenha sido sereno. Os candidatos não
pouparam um ao outro de ataques duros e acusações. Não se viu, porém, a
deplorável cascata de injúrias, insultos e interrupções que deram a tônica no
encontro anterior.
Para Biden, que se mantém de forma consistente à frente nas
pesquisas, tratava-se de assegurar sua vantagem e não cometer deslizes graves,
no que foi bem-sucedido. Trump, por sua vez, tem a missão muito mais difícil de
buscar uma virada histórica de última hora.
Embora mais contido que no primeiro debate, o republicano
não abandonou seu costumeiro caudal de mentiras e distorções. Repetindo a
aposta vitoriosa de 2016, tentou se apresentar como um outsider e colar em
Biden a pecha de político tradicional e corrupto. Depois de quatro anos na Presidência,
tal retórica parece estéril.
Apesar disso, conseguiu acertar bons golpes no oponente.
Como ao atacá-lo pelo apoio dado a uma legislação que contribuiu para aumentar
de forma expressiva o encarceramento no país, ou ao ironizar o fato de que o democrata
esteve no poder durante oito anos e não implementou várias das políticas
prometidas agora.
Não deixa de causar espanto, contudo, a incapacidade de
Trump de apontar feitos positivos de seu mandato —quando o desemprego caiu a
níveis historicamente baixos antes da Covid-19— ou de explicar em termos claros
por que os americanos deveriam lhe conceder mais quatro anos na Casa Branca.
Biden buscou transmitir a mensagem de que sua candidatura
representa a união de um país cindido, bem como a volta da dignidade à
Presidência. Incisivo na maior parte do tempo, o democrata de 77 anos atuou
para afastar dúvidas sobre seu vigor e acuidade mental.
Mostrou-se afiado ao confrontar Trump pela gestão desastrosa
da pandemia e ao cobrar a publicidade de seu Imposto de Renda.
Sem um vencedor claro, porém, o debate dificilmente terá
sido capaz de alterar drasticamente a dinâmica eleitoral. Se não pode ser
descartada, uma nova vitória de Trump, nas circunstâncias atuais, pode ser tão
ou mais surpreendente do que há quatro anos.
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