sábado, 24 de outubro de 2020

O ÚLTIMO DEBATE

Editorial Folha de S.Paulo

Depois de um primeiro encontro caótico, constrangedor e, ao final, pouco inteligível, o segundo e último debate presidencial entre Donald Trump e Joe Biden teve ao menos o mérito de permitir ao público americano acompanhar um confronto de ideias mais civilizado.

Não que o embate tenha sido sereno. Os candidatos não pouparam um ao outro de ataques duros e acusações. Não se viu, porém, a deplorável cascata de injúrias, insultos e interrupções que deram a tônica no encontro anterior.

Para Biden, que se mantém de forma consistente à frente nas pesquisas, tratava-se de assegurar sua vantagem e não cometer deslizes graves, no que foi bem-sucedido. Trump, por sua vez, tem a missão muito mais difícil de buscar uma virada histórica de última hora.

Embora mais contido que no primeiro debate, o republicano não abandonou seu costumeiro caudal de mentiras e distorções. Repetindo a aposta vitoriosa de 2016, tentou se apresentar como um outsider e colar em Biden a pecha de político tradicional e corrupto. Depois de quatro anos na Presidência, tal retórica parece estéril.

Apesar disso, conseguiu acertar bons golpes no oponente. Como ao atacá-lo pelo apoio dado a uma legislação que contribuiu para aumentar de forma expressiva o encarceramento no país, ou ao ironizar o fato de que o democrata esteve no poder durante oito anos e não implementou várias das políticas prometidas agora.

Não deixa de causar espanto, contudo, a incapacidade de Trump de apontar feitos positivos de seu mandato —quando o desemprego caiu a níveis historicamente baixos antes da Covid-19— ou de explicar em termos claros por que os americanos deveriam lhe conceder mais quatro anos na Casa Branca.

Biden buscou transmitir a mensagem de que sua candidatura representa a união de um país cindido, bem como a volta da dignidade à Presidência. Incisivo na maior parte do tempo, o democrata de 77 anos atuou para afastar dúvidas sobre seu vigor e acuidade mental.

Mostrou-se afiado ao confrontar Trump pela gestão desastrosa da pandemia e ao cobrar a publicidade de seu Imposto de Renda.

Sem um vencedor claro, porém, o debate dificilmente terá sido capaz de alterar drasticamente a dinâmica eleitoral. Se não pode ser descartada, uma nova vitória de Trump, nas circunstâncias atuais, pode ser tão ou mais surpreendente do que há quatro anos.

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