Jair Bolsonaro é o presidente. Foi eleito democraticamente.
Mas não tem condição moral nem intelectual de exercer o cargo, do que dá prova
a leviandade com que trata a questão da vacina.
Não sei se a Coronavac, a “vacina chinesa do Doria”, no
linguajar presidencial, vai funcionar bem. Ninguém sabe. Mas, na atual
conjuntura, é um dos fármacos mais promissores em fase final de testes.
Engajar-se num programa de compra e produção antecipadas é uma opção de risco,
mas, se o imunizante tiver sucesso, fazê-lo nos dará um ou dois meses de
dianteira no processo de vacinação, o que pode salvar muitas vidas e reduzir o
estrago econômico da pandemia.
Vale observar que o governo fez exatamente a mesma aposta no
caso da vacina da Universidade de Oxford, o que desmonta por inteiro a
afirmação de Bolsonaro de que não se pode avançar na compra de vacinas até que
elas tenham sido licenciadas pelos órgãos competentes.
Ao que tudo indica, o chilique presidencial não tem
motivação técnica, mas é fruto de um cálculo político míope e mesquinho, que
procura agradar à base mais amalucada do bolsonarismo, que tem alergia a coisas
feitas por “chineses comunistas”, ao mesmo tempo em que se recusa a fazer
qualquer gesto que possa beneficiar um rival, no caso, Doria.
Num país um pouco mais sério, um líder que tomasse decisões
de vida e morte com base em comentários de simpatizantes em redes sociais e não
em justificativas racionais já teria sido democraticamente defenestrado pelo
impeachment. Mas estamos no Brasil.
Meu consolo é que a posição dos bolsonaristas é pior que a
minha. Quem se opõe ao presidente apenas perdeu uma eleição, mas os que o
apoiaram foram traídos. O candidato que falava em acabar com a corrupção,
varrer o sistema político carcomido e impor uma agenda ultraliberal se tornou
um protetor de corruptos, que come na mão do centrão e está prestes a furar o
teto.
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