A balbúrdia criada pelo propósito de criar o programa Renda
Cidadã, enquanto o governo expõe conflitos internos e o flerte com a
irresponsabilidade orçamentária, já degrada a situação financeira do país e das
contas públicas.
Para encerrar uma semana desastrosa, o
presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a expectativa
de manter baixas as taxas de juros será revertida caso o governo recorra a
manobras que burlem o teto de gastos.
E os temores se acentuaram com a refrega
pública entre os ministros do Desenvolvimento Regional, Rogério
Marinho, e da Economia, Paulo Guedes —o primeiro a indicar que o programa
social sairá de qualquer maneira e sendo tachado de “fura-teto” pelo segundo.
Os juros de prazo mais longo, que não são influenciados
diretamente pelo BC, sobem desde fins de agosto e deram salto ainda mais
preocupante na semana que passou, em consequência das incertezas quanto ao
futuro da política fiscal.
Como resultado, o Tesouro Nacional tem de pagar taxas mais
altas para financiar a enorme e crescente dívida pública e tomar empréstimos de
prazo mais curto.
Na prática, portanto, o país inteiro paga caro pela
desorientação do governo de Jair Bolsonaro.
Não fosse isso, as cotações do dólar, que voltaram à casa
dos R$ 5,60, certamente teriam alta menor, dada a situação confortável nas
contas externas. Outro sinal de desconfiança e piora nas condições de
financiamento transparece na queda forte da Bolsa de Valores desde agosto,
agora intensificada.
O problema pode parecer esotérico além do mundo da finança.
Mas pode ser comparado a uma doença séria insidiosa ou à qual não se dá
tratamento adequado.
A alta de juros contamina toda a economia. Eleva o custo do
investimento e provoca insegurança geral, o que induz também à retração do
consumo das famílias.
Aspecto mais abstruso, porém relevante, a concentração dos
vencimentos da dívida em prazo mais curto provoca aumento de risco de
refinanciamento —o que por sua vez tende a se traduzir em custos mais altos
para o governo.
A inépcia do Planalto provoca também tensão política
gratuita, o que prejudica a tramitação de reformas fundamentais.
A recuperação econômica vinha em ritmo até superior ao
esperado, graças aos auxílios para pessoas mais pobres, assalariados formais,
estados e municípios. A sustentação desse ritmo sempre foi incerta, pois o
gasto público extraordinário terá de ser cortado.
Manter os juros em níveis baixos é crucial para uma retomada
mais duradoura. Trata-se de condição que um governo minimamente racional não
pode desconhecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário