Foi de surpresa a primeira reação, em boa parte dos círculos
jurídicos e políticos, à indicação
do desembargador Kássio Nunes Marques ao Supremo Tribunal Federal. À
surpresa seguiram-se as dúvidas acerca dos motivos para a decisão do presidente
Jair Bolsonaro.
Há hipóteses. A escolha do piauiense Kássio, atual
vice-presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, poderia significar
um aceno ao Nordeste, uma vez que o STF não conta com um ministro daquela região.
Note-se, nesse contexto, o entusiasmo do senador Ciro Nogueira (PP-PI) diante
do anúncio.
Vinda de um presidente cujo núcleo político-familiar
encontra-se sob investigação no Supremo, a indicação, independentemente de seus
méritos, também será observada à luz das conveniências do Planalto e seus
aliados, em particular os do centrão —do qual o próprio Nogueira é um dos
expoentes.
Bolsonaro, ao que parece, procurou agradar a gregos e deixar
troianos para depois. Ficou para a próxima vaga no Supremo a prometida
designação de um evangélico como o ministro da Justiça, André Mendonça. Nem se
mencione a antiga expectativa de um nome alinhado à Operação Lava Jato.
Kássio Nunes Marques é tido como garantista e, para desgosto
de setores puristas do bolsonarismo, chegou ao TRF-1 por escolha da
ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Também ficaram a ver navios, a despeito de movimentos
públicos favoráveis ao presidente, cotados para o posto como o ministro Luis
Felipe Salomão, do Superior Tribunal de Justiça, e o procurador-geral da
República, Augusto Aras.
Cumpre ressaltar que, em meio às muitas opções ventiladas, a
indicação de Kássio contempla
a tecnicidade. Não se conhecem, até aqui, elementos que ponham em xeque seu
notório saber jurídico e sua reputação ilibada, requisitos constitucionais —um
tanto vagos, é verdade— para o posto.
Haverá decerto o que pesquisar e questionar. Reportagem
publicada pelo UOL, por exemplo, mostrou que o magistrado autorizou, em decisão
controversa, a abertura de uma estrada numa unidade de conservação em Rondônia.
Cabe agora ao Senado exercer com rigor e altivez a sua
missão de controle das indicações do presidente ao STF. Felizmente, a
experiência recente tem mostrado sabatinas mais inquisitivas e menos
protocolares —ainda que inexistam casos de rejeição de um candidato desde 1894,
no governo do marechal Floriano Peixoto.
Ademais, ministros aprovados em governos anteriores não se
pautaram necessariamente pelos interesses de seus nomeantes uma vez que tomaram
assento. Que assim permaneça, a bem do fortalecimento das instituições
democráticas.
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