Como não poderia deixar de ser, o mundo soube que Donald
Trump deixaria o hospital no qual se tratava da Covid-19 por meio de uma
postagem no Twitter. “Não
tenha medo” da doença, recomendou.
Apesar de uma sentença seguinte sensata, afirmando que as
pessoas não devem se deixar dominar pelo medo, o estrago estava feito.
O presidente americano, doente, coroa assim o seu trabalho
neste ano de pandemia: com desleixo no trato da emergência sanitária e desprezo
pela vida humana.
Seus macaqueadores mundo afora seguiram a mesma linha, como
os brasileiros bem sabem com Jair Bolsonaro e seu negacionismo.
Trump, a acreditar nos conflitantes relatos acerca de sua
saúde, passou por maus bocados no início de sua infecção —idoso e obeso, acabou
no hospital.
Mesmo internado, manteve o culto personalista. Deixou-se
fotografar e filmar trabalhando e, num ato criticado pelos próprios médicos da
unidade médica militar onde estava, cumprimentou apoiadores num passeio de
carro.
Os agentes secretos com Trump no veículo, que é lacrado para
evitar a entrada de contaminantes, se arriscaram com um paciente no auge de seu
período de infecção por um teatro político barato.
Pontual, a cena diz muito sobre a realidade da pandemia na
mais poderosa nação da Terra. Mais de 20% dos mortos pelo patógeno são
americanos, que representam 4,2% da população mundial —e há acima de 40 mil
novos casos diários.
A menos de um mês da eleição presidencial, o impacto da
doença de Trump sobre o eleitor ainda é incerto. As duas primeiras pesquisas de
intenção de voto feitas após a revelação do contágio sugerem problemas para o
republicano.
O democrata Joe Biden segue com uma liderança de 8 a 10
pontos, e os eleitores responsabilizaram Trump por sua infecção.
Se havia esperança de que a enfermidade traria empatia, até
aqui o máximo angariado foi um indisfarçável “Schadenfreude” de críticos do
presidente republicano.
Restará saber se esse sentimento de satisfação com o
infortúnio alheio, reforçado pela atitude de Trump ante o vírus, irá contaminar
de vez sua chance de ganhar terreno entre os indecisos e em estados-pêndulo do
pleito.
No mês final da campanha de 2016, ele fez mais de 60
comícios, que o ajudaram a suplantar Hillary Clinton na reta de chegada.
Obviamente neste ano a intensidade seria menor pela própria
pandemia. Mas, mesmo que se recupere, Trump terá perdido semanas vitais para
tentar virar o jogo.
Se ao fim o presidente perder, não será pequena a ironia de
que parte da culpa poderá ser atribuída ao vírus que ele tanto minimizou.
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