O resultado da eleição americana vai moldar a segunda metade
do mandato de Jair Bolsonaro. A embaixada em Washington tem procurado líderes
republicanos e democratas para reafirmar o interesse num amplo acordo econômico
e de defesa com Donald Trump ou Joe Biden.
Isolado, com seu chanceler já oficializando a condição de
“pária” no mundo, Bolsonaro tenta garantir nos EUA uma apólice de seguro na
travessia da crise global. Além disso, passa noites insones devaneando na
crendice de que as colunas da Casa Branca ocultam o portal de “salvação do
mundo” — como define o Itamaraty — da força da China.
O Brasil nunca foi e dificilmente será prioridade na agenda
americana. Mas Bolsonaro se oferece, propenso a pagar o sobrepreço inerente ao
notável amadorismo diplomático.
O problema é a realidade. Trump e Biden coincidem no
essencial à defesa da hegemonia diante da ascensão chinesa, baseada na inovação
em computação quântica e em novos padrões de consumo da classe média de 400
milhões, mais que a população dos EUA. Divergem sobre forma e meios de manter o
domínio.
A receita de Trump é a das negociações conflituosas (com o
México e o Canadá, no Nafta; a Europa, na Otan; e a China) para acordos
protecionistas. Bolsonaro já tem um roteiro. Por ele, atravessaria a campanha
de reeleição determinando quem vai perder mercados, empregos e lucros para a
concorrência americana.
Com Biden, a quem elegeu adversário, o jogo será ainda mais
duro no comércio, nas “consequências econômicas significativas” da antipolítica
ambiental, em eventual socorro na crise e no acesso a tecnologias de guerra, a
miragem militar bolsonarista.
Bolsonaro conseguiu a proeza de assumir um alto custo antes
do resultado das urnas. E as perdas tendem a ser maximizadas, porque o seu
esteio político-empresarial continuará refém de Pequim, provedor de um terço
das receitas na mineração, no agronegócio e na banca financiadora. Nunca
estiveram tão dependentes da China. O amadorismo vai custar caro para todos.
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